Europa é uma das dezenas de Luas de Júpiter – e trata-se de uma Lua tão fascinante, que torna-se, constantemente, alvo de textos aqui na Socientífica. Recentemente, surgiram evidências de plumas de liberação de vapor água em Europa. A mais recente evidência surgiu no final de abril de 2020, e conquistou a divulgação científica no início de maio. Agora, novas evidências indicam que as possíveis plumas da lua Europa podem liberar água da crosta.
Após considerar uma séria possibilidade da existência de plumas que liberam vapor de água em Europa, o desafio é descobrir a origem dessa água, além de confirmar a existência das plumas. Um novo estudo, publicado recentemente no periódico Geophysical Research Letters sugere, com base em dados, que o estoque dessa água localiza-se na crosta da lua.
A água esquenta através do aquecimento gerado pela atividade vulcânica de Europa. Ao aquecer e criar mais pressão, as cicatrizes na superfície liberam essa água extremamente quente, que logo evapora. Outro ponto interessante é o de que não é uma água normal, mas uma água muito salgada – uma verdadeira salmoura, e esse é, de fato, o termo técnico utilizado pelos cientistas para referir-se à esse estoque interno de água.
A importância das possíveis plumas em Europa
Embora seja uma água bastante salgada, trata-se de um fenômeno interessante para a busca de vida, já que um ambiente promissor para a vida precisa de alguma fonte de energia. No caso de microrganismos, fontes hidrotermais, ou seja, água aquecida por fenômenos geológicos, são os locais mais promissores na Terra. Então, isso poderia se repetir em outro local, como Europa.
Dessa maneira, entender um pouco mais sobre as plumas tornou-se uma missão consideravelmente importante. Acreditava-se que essa água provinha de um oceano interno, abaixo de toda a crosta de gelo. Mas os pesquisadores sugerem, no momento, que a água surge a partir de bolsões embutidos na própria crosta de gelo, e não abaixo.
“Entender de onde vêm essas plumas de água é muito importante para saber se os futuros exploradores da Europa poderiam ter a chance de realmente detectar a vida do espaço sem sondar o oceano da Europa”, disse em um comunicado o cientista Gregor Steinbrügge, pesquisador de pós-doutorado pela Universidade de Stanford e autor principal do estudo.
Os cientistas utilizaram dados da já aposentada espaçonave Galileo, da NASA. Com os dados, eles modelaram simulações computacionais considerando a combinação entre congelamento e pressurização causaria uma erupção criovulcânica (as plumas).
Calculando pressões
Para facilitar, eles utilizaram um exemplo mais extremo – uma cratera de quase 30 km de diâmetro criada por um impacto de um asteroide. Então, eles modelaram o aquecimento do impacto.
“O cometa ou asteróide que atingiu a camada de gelo foi basicamente um grande experimento que estamos usando para construir hipóteses para testar”, diz o co-autor do estudo Don Blankenship, da Universidade do Texas. “Nosso modelo faz previsões específicas que podemos testar usando dados do radar e outros instrumentos do Europa Clipper”.
No modelo deles, o impacto derreteu uma grande quantidade de água (uma cratera de 30 km é gigantesca). Essa água congelou novamente, mas apenas parcialmente, sobrando alguns bolsões. Conforme a água líquida derretia outras partes do lado de dentro da crosta, tornava-se ainda mais salgada e, portanto, mais difícil de congelar. E assim formaram-se grandes bolsões de salmoura.
Quando um desses bolsões atingiram o centro da cratera, ele se prendeu. Ao congelar, se expandiu e criou uma pressão. Isso originou uma grande pluma, de 1,6 km de altura. Há uma “cicatriz” da pluma – um desenho que se parece com uma aranha.
Essa seria, é claro, uma delas, mas ainda deve haver outras possíveis plumas na lua Europa. “Embora as plumas geradas pela migração de bolsões de salmoura não forneçam uma visão direta do oceano de Europa, nossas descobertas sugerem que a própria concha de gelo de Europa é muito dinâmica”, diz Joana Voigt, da Universidade do Arizona.
O estudo foi publicado no periódico Geophysical Research Letters. Com informações de NASA.