“Porta do Inferno” na Sibéria está se expandindo rapidamente devido ao degelo do permafrost

Redação SoCientífica

Em uma região remota e fria da Sibéria, um buraco colossal conhecido como Cratera de Batagaika, ou “Porta do Inferno”, como é chamado localmente, está se abrindo na terra a uma velocidade alarmante.

Visível do espaço, este abismo em formato de arraia é uma manifestação visível do degelo acelerado do permafrost, um problema geológico com implicações potencialmente globais.

Cratera de Batagaika

Imagens desclassificadas da Guerra Fria, da década de 1960, mostram que a cratera era inicialmente um barranco insignificante. No entanto, nas últimas três décadas, a cratera passou por uma expansão dramática, triplicando de tamanho entre 1991 e 2018, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA.

Hoje, a cratera de Batagaika se estende por cerca de 1 km de comprimento e 800 m de largura em seu ponto mais amplo, com penhascos íngremes que podem ser vistos claramente do espaço.

A rápida expansão da cratera está diretamente ligada ao aquecimento do Ártico, que está ocorrendo a um ritmo mais rápido do que qualquer outro lugar da Terra. Essa tendência de aquecimento está causando o degelo acelerado do permafrost, levando à formação de estruturas semelhantes a crateras, como a de Batagaika.

Cratera vista do espaço.
Cratera vista do espaço. Imagem: Contains Modified Copernicus Sentinel data 2020 – CC BY-SA IGO 3.0

Tecnicamente, a cratera não é realmente uma cratera, mas sim o que os geólogos chamam de “depressão de degelo regressivo”, ou “mega-slump”. Essencialmente, é um fosso formado quando o permafrost derretido faz com que o solo ceda, criando um deslizamento de terra à medida que as bordas desmoronam.

Impacto ambiental e importância científica

Embora milhares de depressões de degelo existam em todo o Ártico, o tamanho colossal da cratera de Batagaika a torna um caso excepcional, daí o apelido de “mega-slump”.

A cratera de Batagaika oferece uma visão única dos impactos potenciais do degelo do permafrost.

O permafrost, um solo que permanece congelado por pelo menos dois anos, cobre aproximadamente um quarto da superfície terrestre do Hemisfério Norte. Essa camada congelada atua como um reservatório gigante de carbono, armazenando o dobro da quantidade de carbono presente na atmosfera.

À medida que o permafrost derrete, organismos mortos há muito tempo presos dentro dele começam a se decompor, liberando dióxido de carbono e metano, gases de efeito estufa, na atmosfera.

Crescimento da cratera entre 1991 e 2022.
Crescimento da cratera entre 1991 e 2022. Imagem: Earth Resources Observation and Science (EROS) Center

Estima-se que, se o degelo do permafrost continuar em seu ritmo atual, ele poderá liberar tanto dióxido de carbono quanto um país industrializado até 2100, exacerbando ainda mais a crise climática.

A pesquisa em andamento na cratera de Batagaika revelou que ela libera entre 4.000 e 5.000 toneladas de carbono por ano, o equivalente às emissões anuais de energia de aproximadamente 1.700 residências nos EUA.

Essas descobertas destacam o papel significativo que o degelo do permafrost pode desempenhar na aceleração das mudanças climáticas.

Embora a cratera de Batagaika sirva como um claro lembrete dos perigos representados pelas mudanças climáticas, ela também oferece aos cientistas um laboratório natural inestimável para estudar os complexos processos de degelo do permafrost e suas possíveis consequências.

Ao entender melhor esses processos, os cientistas podem desenvolver estratégias mais precisas para mitigar os impactos das mudanças climáticas.

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