Quando adultos, nós humanos não temos lembranças dos primeiros anos da nossa vida. Podemos até lembrar de alguns flashes, mas essas memórias são muito vagas. Contudo, idosos muitas vezes se lembram facilmente de eventos que aconteceram há dezenas de anos.
Ainda não há muito consenso sobre o motivo disso. Todavia, muitos estudos indicam que isso tem a ver com a formação do cérebro. Em geral, crianças com menos de três anos mantêm lembranças por no máximo algumas semanas, até meses. Contudo, a partir dos três anos essa capacidade começa aumentar.
Ainda assim, não conseguimos lembrar claramente de eventos dos nossos três anos de idade. Isso porque essas memórias acabam sendo “excluídas” mais tarde. Além do mais, é a partir dos três anos que uma criança começa a falar mais. A memória, portanto, pode ter uma relação direta com a linguagem.
Não temos lembranças de muito cedo na infância por causa da neurogênese
Durante os primeiros anos de vida de uma criança, a neurogênese ocorre intensamente. Esse é o processo de formação de novos neurônios. Vale lembrar que ele não ocorre naturalmente em indivíduos adultos. Por isso, aliás, é tão difícil curar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Contudo, a neurogênese pode ser a responsável por não termos lembranças dos primeiros anos de vida. Cientistas acreditam que a formação intensa de novos neurônios pode bagunçar as memórias da criança. Assim, até mais ou menos sete anos é bastante difícil para uma criança formar memórias consistentes.
No entanto, a neurogênese acontece até a fase adulta, só que de forma menos intensa. Isso faz com que crianças aprendam coisas novas bastante rápido e guardem isso para o resto da vida. Este estudo, aliás, mostrou que crianças com mais de dois anos lembram melhor de eventos traumáticos do que as crianças mais novas.
A influência da cultura na memória
Além da formação do cérebro, a cultura pode ser decisiva na formação de lembranças. Acontece que, sobretudo, uma criança aprende a falar e a contar histórias com seus familiares próximos. Isso é fundamental para que a criança consiga se expressar e também formar memórias duradouras.
Contudo, diferenças culturais podem mudar a forma como a memória ocorre. Por exemplo, crianças americanas tendem a lembrar mais de eventos individuais da própria criança. Por outro lado, crianças criadas em culturas orientais lembram melhor de eventos coletivos. Assim, uma criança americana lembraria melhor de si mesma em uma aula, por exemplo. Já uma criança chinesa lembraria melhor da turma toda.
Essa característica, mais uma vez, é desenvolvida pela interação com os pais ou familiares próximos. Isso porque as pessoas adultas acabam projetando seus valores culturais nas crianças, por mais que elas ainda não entendam isso.
Portanto, tanto a fisiologia quanto a cultura são determinantes para a memória. Aliás, mesmo que uma pessoa não lembre da infância, o que acontece nesse período pode influenciar a vida adulta. As evidências, contudo, ficarão mais claras apenas quando mais estudos que acompanhem pessoas durante a vida toda forem finalizados.