As casas no Brasil não se preocupam muito com alguns fatores que são tratos como primordiais em alguns países. As casas brasileiras não têm isolamento térmico, e isso se deve a diversos motivos diferentes, desde culturais, até práticos e econômicos.
A falta de conforto térmico não costuma ser algo muito notada por nós, brasileiros, já que estamos acostumados com isso. Em boa parte do país, não costuma fazer muito frio. As temperaturas mais baixas ocorrem principalmente nas regiões sul e sudeste do país, e mesmo nesses locais, não duram por um período muito longo do ano.
Ainda assim, ter algum conforto térmico poderia ser útil não só nos dias mais frios, mas nos dias mais quentes, já que a casa teria uma temperatura mais estável ao longo das estações. Mas por que as casas brasileiras não têm isolamento térmico?
Por que as casas brasileiras não têm isolamento térmico?
“O conforto e a funcionalidade sempre foram uma preocupação das escolas de arquitetura”, explica Rafael Passos, do Instituto de Arquitetos do Brasil ao UOL.
Só que no Brasil isso ocorreu de maneira um pouco diferente do que no restante do mundo. No anos de 1980 e 1990, as construtoras mudaram muito essa visão do brasileiro. A arquitetura parou de ser um foco para os brasileiros, que buscavam outras prioridades em imóveis, como custo-benefício.
“No Brasil, a arquitetura é vista como coisa supérflua”, explica Passos ao UOL. “Na Espanha, você discute arquitetura na mesa do bar, como a gente discute música. Na Argentina, tem cadernos de arquitetura de qualidade que saem em grandes jornais. Quando vão construir, mesmo pessoas que classe média baixa investem em um arquiteto, porque reconhecem a importância”.
No entanto, o arquiteto conta também sobre o que acha para o futuro no Brasil. No início dos ano 2000, houve um grande boom de ar condicionados, e uma arquitetura de forma a manter a casa o mais fresco possível não era tão necessária. O conforto térmico não é uma palavra que faça muito parte do vocabulário do brasileiro.
Entretanto, alguns acreditam que isso pode mudar em breve, já que o debate em relação às mudanças climáticas está em alta e a diminuição no uso de energia elétrica é uma coisa bastante cobrada.
“A gente aposta muito no debate das mudanças climáticas. Não vai bastar apenas mudar a matriz energética, será preciso considerar outros fatores, como construções mais inteligentes, que consumam menos energia”, disse Passos ao UOL.
“por mais que algumas pessoas neguem, elas estão sentindo na pele os efeitos das mudanças climáticas. Por isso, a nova geração está mais preocupada com questões como conforto ambiental, principalmente quando falamos de casas de alto padrão”, disse também ao UOL a professora e arquiteta Luize Andreazza Bussi, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Além do simples fato de o brasileiro não ligar tanto para essa questão, há o alto custo dos materiais. Por exemplo, esquadrias no Brasil geralmente são de alumínio, que é um péssimo isolante, e ótimo condutor de calor. Na Europa utiliza-se mais as esquadrias de PVC, que no Brasil são mais caras e integram poucas construções.
Outros itens que encarecem um planejamento de conforto térmico são os vidros duplos nas janelas e blocos de cerâmica no lugar de blocos de concreto.
Um fator que também pode ser alocado na sessão dos custos é a falta de projeto nas construções. Em casas no Brasil, é muito comum que a construção seja inteiramente planejada pelo mestre de obras, ou pedreiro, e que não haja um engenheiro, muito menos um arquiteto. Sem plantas ou planejamento, esses detalhes passam facilmente despercebidos.