Estudo mostra que polvos podem dormir como mamíferos

Mateus Marchetto
Polvos podem ter dois ciclos de sono que se assemelham àqueles dos mamíferos. (Imagem de Arhnue Tan por Pixabay)

Há alguns meses, você pode ter se deparado com o vídeo abaixo. A gravação mostra um polvo mudando de cor enquanto está num estado metabólico bastante reduzido. Por esse motivo, diversas especulações surgiram sobre o polvo estar sonhando, devido às suas mudanças de cor. Contudo, nenhuma evidência mostrava que polvos poderiam realmente sonhar como mamíferos. Pelo menos não até agora.

Estudos vindos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte mostraram que polvos, na verdade, podem ter estados mais ativos ou mais profundos, mais ou menos como ocorre nos mamíferos e nas aves. Para avaliar essas fases do sono dos bichos, os pesquisadores gravaram quatro animais da espécie Octopus insularis. A análise levou em consideração as mudanças de cor, textura e atividade dos olhos dos animais.

A conclusão, por conseguinte, mostrou que os polvos têm, de fato, duas fases de um estado que pode ser um primórdio evolutivo do sono. Na primeira fase, chamada de “sono ativo”, os invertebrados mostraram mudanças significativas de cor e textura, imitando comportamentos de caça, por exemplo. Esse sono agitado durou, em média, 40 segundos nos animais do estudo. Já na segunda fase, o “sono calmo” (quiet sleep, em inglês), os bichos adquiriram colorações mais pálidas e menos movimento do corpo.

content 1616683850 sleep cycle crop
(Medeiros et al/iScience)

A pesquisa ainda observou que esses ciclos se alternam em períodos que variam entre 30 e 40 minutos. Apesar disso, é impossível dizer com certeza se os polvos realmente sonharam com momentos de caça ou fuga durante essas fases do sono.

A evolução do sono, dos polvos aos vertebrados

É bastante difícil definir o sono, e mesmo dizer em que animais ele acontece. Ademais, as reais funções do sono e dos sonhos podem ir muito além do que sabemos hoje. Entretanto, alguns indicativos podem ajudar. Uma baixa no metabolismo, por exemplo, é uma das características marcantes do sono. Ou seja, o corpo passa a consumir bem menos energia para as funções vitais.

Peixes e animais aquáticos em geral têm esses períodos de diminuição metabólica e não dormem por longos períodos, como nós, primatas. Baleias e golfinhos, por exemplo, relaxam por apenas alguns minutos, diversas vezes ao longo do dia. Essa redução da atividade garante que o animal conserve energia, limpe resíduos do seu corpo e possa digerir todos os nutrientes da última refeição.

fish 1633525 1920
(Imagem de sandrine RONGÈRE por Pixabay)

No entanto, o estudo sobre os polvos mostra uma perspectiva totalmente nova sobre o sono. Isso porque mamíferos e cefalópodes tiveram seu último ancestral comum há mais de 500 milhões de anos. Isso é tempo suficiente para diferenciar bastante duas espécies. Porém, o mecanismo de ciclos de sono parece bem conservado.

Apesar dos resultados, os autores ressaltam que isso não representa necessariamente uma relação evolutiva entre o sono de mamíferos e cefalópodes. Ainda assim, as observações são bastante sugestivas.

O artigo científico está disponível no periódico iScience.

Compartilhar