Reduzir o desmatamento e a degradação florestal pode ser uma solução mais eficiente, barata e ecológica do que plantar árvores.
A promoção global do plantio de árvores pode não ser a solução para problemas ambientais complexos, segundo crítica de pesquisadores publicada em artigo de perspectiva na revista “Science” em 7 de maio. Os pesquisadores Pedro Brancalion, do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), e Karen Holl, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Estados Unidos, endossam os benefícios trazidos pelas árvores, mas advertem que reduzir o desmatamento e a degradação florestal pode ser uma solução mais eficiente, barata e ecológica do que plantar árvores.
Brancalion contesta a visão de que o plantio de árvores é sempre bom e necessário para resolver problemas ambientais. “Nem sempre, plantar árvores é a melhor solução para um determinado problema ambiental, havendo um conjunto bem mais amplo de opções que devem ser consideradas”, explica ele, que é especialista na restauração de florestas tropicais e vice-coordenador do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica.
O plantio de árvores compensa apenas cerca de ⅓ das emissões de gases de efeito estufa. Por isso, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas seria preciso adotar uma estratégia multifacetada, atuando também na proteção das florestas existentes e na redução drástica da emissão de gases de efeito estufa.
Segundo os pesquisadores, a proteção de florestas existentes é um dos fatores que determinam o sucesso do plantio de árvores. Ao comentar o plano ambicioso de reflorestamento anunciado pelos países do G7 em 2019 para compensar o crescimento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, Pedro avalia que ele “seria inócuo já que esses problemas decorrem da inoperância da fiscalização ambiental e não seriam resolvidos apenas com o plantio de novas árvores”.
Os pesquisadores destacam que plantar árvores pode ajudar a biodiversidade, melhorar a qualidade da água e sequestrar carbono. Mas, dependendo de onde e como as árvores são plantadas, essa atividade pode ser danosa e reduzir o suprimento de água em campos e cerrados nativos, onde o ecossistema nativo não é florestal. Por isso, o planejamento de longo prazo se torna uma etapa essencial nas iniciativas de plantio de árvores em larga escala.
De acordo com Brancalion, o planejamento precisa levar em conta “o envolvimento social e a integração das árvores com outros usos do solo”. Equilibrar objetivos sociais e ecológicos e coordenar e monitorar áreas de plantio de árvores também são recomendações levantadas pelos pesquisadores no artigo. Eles alertam que apenas plantar árvores não garante que elas sobreviverão.
Uma análise dos esforços de restauração florestal no Sri Lanka após o tsunami de 2004 mostrou que menos de 10% das árvores sobreviveram, em 75% dos locais, observam. Por isso, seria preciso investir num esforço coletivo de preservação destas árvores, com integração de governos, sociedade civil organizada e produtores rurais.
Este artigo foi originalmente publicado em Agência Bori.