Descoberta a proteína que causa a sensibilidade nos dentes

Mateus Marchetto
Após anos de pesquisa, pesquisadores finalmente encontraram a proteína responsável pela sensibilidade nos dentes. (Imagem de LionFive por Pixabay)

Um dia de sol intenso, você resolve se refrescar com um picolé. No entanto, na primeira mordida, o alívio do calor vira um pesadelo. Imediatamente começa uma dor aguda ao longo de toda a mandíbula até as laterais da cabeça. Se você já passou por isso, provavelmente você é uma vítima da sensibilidade excessiva dos dentes ao frio,.

Pouco se sabia até recentemente sobre os mecanismos moleculares dessa dor tão intensa. No entanto, um estudo publicado no dia 26 de março de 2021 pode ter solucionado esse sistema de transmissão de dor. Pesquisadores descobriram que uma proteína, a TRPC5, está presente nos dentes de ratos de laboratório e pode ser a responsável pela sensibilidade dos dentes.

A TRPC5 está presente em diversos outros lugares do corpo e atua como um canal iônico. Ou seja, quando recebe certo estímulo, a TRPC5 abre um canal no seu interior, funcionando como um túnel. Esse canal permite a passagem de íons como cálcio ou sódio que irão desempenhar diversas funções dentro da célula.

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Proteínas TRPC5 em verde (Katharina Zimmermann)

A principal dessas funções, todavia, é a transmissão de impulsos nervosos. Mais especificamente uma sensação de dor absurda disparada pelo contato de uma superfície fria com os dentes.

Com essa descoberta, por conseguinte, pesquisadores acreditam que o tratamento para a sensibilidade possa fica mais fácil. Há muitos anos usa-se óleo de cravo ara casos de hipersensibilidade. Isso porque esse óleo bloqueia os canais TRPC5. Ademais, Katharina Zimmermann, coautora do artigo, afirma: “Uma vez que se tenha uma molécula como alvo, há a possibilidade de tratamento.”

Sensibilidade e transmissão de impulsos nervosos

Como dito antes, é possível encontrar os canais iônicos TRPC5 em diversos outros lugares do corpo. Essas proteínas têm a função de transportar os íons através de membranas, despolarizando a célula e formando um impulso elétrico. Os neurônios periféricos então transmitem a mensagem até o cérebro, que registra o frio e manda ações para o corpo.

Contudo, pouco se sabia da existência de TRPC5 nos dentes. Isso porque os dentes possuem diversas camadas com os materiais mais resistentes possíveis de se encontrar no corpo humano.

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(Imagem de Engin Akyurt por Pixabay)

A primeira camada é o esmalte – a parte mais dura e branca dos dentes. O esmalte serve como proteção para a região interna e sofre sérios dans pela ação de ácidos residuais de bactérias. Quando há essa corrosão do esmalte, a dentina (outra camada dura de tecido conjuntivo) acaba exposta e corroída também.

Acontecido isso, o picolé gelado chega nos odontoblastos. Essas células são as mais internas dos dentes e possuem os canais TRPC5 que disparam a sensibilidade ao frio.

Estima-se que mais de 2,4 bilhões de pessoas no mundo sofram com a sensibilidade nos dentes. A descoberta, portanto, pode ser um passo importante para a saúde bucal mundial.

O artigo científico está disponível no periódico Science Advances.

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