Pesquisa sugere que até pequenos grupos de humanos podem mudar o ambiente

Mateus Marchetto
Imagem: Maggie Newman/African Centre for Coastal Paleosciences

Em pleno século XXI, após diversas revoluções industriais e tecnológicas, é evidente que a espécie humana pode modificar drasticamente a paisagem do planeta. Contudo, dados de satélites mostram que mesmo pequenos grupos de caçadores-coletores podem mudar o ambiente de um lugar de maneira significativa.

Apesar de não conseguirmos ver a Muralha da China do espaço, cientistas conseguem extrair muitos detalhes de uma imagem de satélite. Muitos destes dados indicam, inclusive, a atividade humana e seus efeitos em uma paisagem.

Agora pesquisadores combinaram este tipo de pesquisa com a arqueologia, e mostraram que mesmo pequenas populações de seres humanos primitivos já causavam mudanças significativas no ambiente.

Usando imagens de satélite da Ilha de Madagascar, cientistas analisaram o relevo e o solo de de diversas partes do sudoeste da ilha. O detalhe é que algumas destas regiões foram conhecidamente habitadas por comunidades primitivas de pescadores e caçadores-coletores. Isso porque diversos artefatos vieram destas regiões.

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Vegetação em Madagascar. Imagem: Jean-Philippe Déranlot / Pixabay 

Todavia, a pesquisa mostrou uma variação significativa do terreno das regiões habitadas pelos Homo sapiens em relação àquelas não habitadas. Ao longo de quase 500 quilômetros quadrados, ao menos 17% dos territórios sofreram a longo prazo pela ação humana.

Ou seja, mesmo sem agricultura ou maquinário, os seres humanos já eram capazes de mudar o ambiente de forma bastante profunda.

Por que um caçador-coletor iria mudar o ambiente?

Além dos dados do satélite PlanetScope, a pesquisa publicada no periódico Frontiers in Ecology and Evolution também utilizou algoritmos de alteração florestal e vegetativa na ilha. Tudo isso, por conseguinte, para prever a coevolução da vegetação e dos seres humanos em Madagascar.

“O que nós descobrimos é que as áreas circundando estes sítios [de ocupação humana], que parecem ser pristinas, não são. Nós vemos uma leve alteração na capacidade do solo reter água. Isso é indicado por um desvio na refletividade espectral vista nas imagens de satélite.” Assim afirma o autor Dylan S. Davis, ao Penn State News.

Acontece que essa característica de mudar o ambiente acontece mesmo com a menor presença de seres humanos. Isso porque a forma e a composição do ambiente dependem diretamente das espécies que vivem nele. E convenhamos que nós humanos fazemos várias modificações na natureza.

Contudo, ainda não há evidências concretas de que a mudança no solo, citada por Davis, tenha sido de fato causada por seres humanos habitando as regiões. Ainda assim, a hipótese é forte.

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Imagem:  Hans Braxmeier / Pixabay 

A maioria das pesquisas do gênero, aliás, mostra o impacto de comunidades agrícolas nos recursos e condições do ambiente. No entanto, a pesquisa ressalta que este tipo de mudança já acontecia provavelmente milhares de anos antes de criarmos nosso modelo de agricultura.

“Nós subestimamos o impacto que sociedades não-agrícolas têm em moldar as paisagens. Estas são sutis, mas podem ser descobertas,” afirma a coautora Kristina Douglass. “Olhando para a paisagem ao redor do mundo, nós descobrimos que pessoas modificaram mais do mundo do que pensávamos antes.”

A pesquisa está disponível no periódico Frontiers in Ecology and Evolution.

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