Em 1991, um casal de alpinistas encontrou, nos Alpes, próximo à fronteira entre Áustria e Itália, uma múmia natural. Com 5.300 anos de idade, o chamaram de Ötzi, o Homem de Gelo. Ele levou esse nome por estar em uma cadeia montanhosa coberta por neve em boa parte de seus picos.
Uma curiosidade interessante sobre Ötzi, é que quando os cientistas analisaram seu DNA, encontraram 19 pessoas com ligação genética, na região do Tirol, na Áustria, isto é, 19 indivíduos possuem um distante parentesco com o homem de cinco milênios.
Boa parte da Europa possui a famosa cadeia montanhosa – os Alpes. A cadeia de montanhas estende-se desde países da Europa Central, próximo à França, possuem um braço que passa pela Itália, e estendem-se para o Leste Europeu, cruzando a Eslovênia, Hungria (além de outros países), como demonstra o mapa na imagem abaixo:
Ötzi morreu com uma idade entre 30 e 45 anos, e possuía cerca de 1,65 de altura. Ele vestia três casacos de pele para se proteger do frio, possuía dezenas de tatuagens, possuía 40 problemas de saúde diferentes e seus dentes permitiram rastrear até mesmo a sua moradia. Ou seja, Ötzi, o Homem de Gelo, exerceu grande importância na compreensão da vida de um humano da época na região.
Junto com o homem, os pesquisadores encontraram também as suas ferramentas – um machado, uma faca, flechas e um arco. Ele carregava também cogumelos medicinais, cogumelos inflamáveis, equipamentos para acender fogo e algumas outras plantas. Ele era, então, um aventureiro muito bem equipado.
Encontrando o contexto de Ötzi, o Homem de Gelo
O bom estado de seu corpo permitiu identificar diversos pontos, muito além do que relatamos aqui. Mas ainda não acabou. Os cientistas descobriram que quando Ötzi subiu a montanha, aquele local não possuía neve. Embora hoje boa parte dos Alpes possua uma cobertura de neve, naquela época apenas os picos mais altos contavam com ela, conforme um novo estudo publicado no periódico Scientific Reports.
“Em combinação com as idades máximas conhecidas de outras geleiras altas dos Alpes, apresentamos evidências de um gradiente de elevação do início da neoglaciação”, escrevem os pesquisadores no estudo. “Ele revela que nos Alpes apenas os locais de maior altitude permaneceram cobertos de gelo durante todo o Holoceno. Pouco antes da vida do Homem de Gelo, altos picos alpinos emergiam de condições quase sem gelo, durante o início de uma neoglaciação do Holoceno Médio”.
“Nossa principal descoberta é que o gelo tem 5.900 anos, mais ou menos, um pouco mais velho do que o homem do gelo”, diz Pascal Bohleber, da Academia Austríaca de Ciências, ao LiveScience. “Isso sugere que, nesta região, tivemos um tempo em que as geleiras começaram a se formar em condições que não tinham gelo ou com geleiras bem menores do que hoje”.
Métodos e as razões da pesquisa
Para concluir isso, os pesquisadores foram até a geleira de Weißseespitze, nos Alpes Austríacos, com um helicóptero. O gelo na base da geleira nunca derreteu, então eles coletaram, junto com o gelo, uma cápsula do tempo que abrange alguns milênios de história. Além disso, o gelo quase foi contaminado pela água escorrida do derretimento. Então, eles precisaram perfurar a geleira durante o pôr do Sol – imagine, então, o frio que passaram.
Cada camada de gelo armazenou fragmentos microscópicos de carbono, de diversas origens diferentes, que chegaram à superfície do gelo em cada época. Portanto, cada camada da amostra corresponde a uma época. Analisando trechos da camada com datação de radiocarbono, eles descobriram a época da camada mais inferior de gelo, a mais antiga delas.
Assim, eles perceberam que o gelo mais antigo datava de 5.900 anos atrás, poucas centenas de anos antes de Ötzi morrer. Ou seja, embora pudesse haver um pouco de neve, não havia uma cobertura grande como hoje. Mas ainda não se sabe se ele morreu já no meio do gelo ou se morreu em rochas e o gelo o cobriu depois.
A maior importância do trabalho, no entanto, não era descobrir mais sobre Ötzi, o Homem de Gelo, mas entender o passado para buscar por soluções contra o aquecimento global. Em duas décadas a geleira Weißseespitze desaparecerá com o derretimento, se ninguém fizer nada.
O estudo foi publicado no periódico Scientific Reports. Com informações de LiveScience e National Geographic.