De Larry Greenemeier para a Scientific American
A nuvem de cogumelo no ar da explosão da bomba de dez toneladas foi destinada a enviar uma mensagem clara.
A ideia de lançar uma bomba de onda de choque — mesmo que seja o maior artefato não nuclear já usado pelos EUA em combate — para alvos de combatentes escondidos em túneis subterrâneos pode parecer inicialmente contraintuitivo. A Massive Ordnance Air Blast Bomb GBU-43 / B (MOAB), ou “Mãe de Todas as Bombas”, que a força aérea daquele país lançou sobre caças e túneis do autoproclamado Estado Islâmico (EI) nessa quinta-feira (13) no distrito de Achin da Província de Nangarhar no Afeganistão, nunca atingiu o solo. Mas a enorme pressão de quase dez toneladas criada pela MOAB teria eliminado qualquer pessoa nas proximidades e certamente enviou um sinal claro de que o governo Trump está disposto a usar uma força sem precedentes.
Ao contrário de uma bomba projetada para realmente penetrar um edifício ou o chão, a MOAB (também chamada de bomba termobárica ou bomba de ar e combustível) tem um “fusível de proximidade” no nariz que acende a ogiva quando atinge uma certa altitude — que pode ser em qualquer lugar entre quinze metros (cinquenta pés) e trezentos e cinco metros (mil pés) — diz Edward Priest, um ex-controlador de combates do Air Force Special Operations que se aposentou das forças armadas em 2015. “Quando explodem, eles sopram combustível no ar”, explica Priest. “Esse combustível é pulverizado. Então há uma explosão secundária que acende o combustível que foi pulverizado”.
Uma bomba de ar-combustível “não joga fora muita fragmentação como você esperaria de uma bomba convencional — tudo é sobrepressão da explosão, que pode derrubar árvores e usar as próprias árvores como a fragmentação”, diz Priest. “Esse tipo de bomba não funcionaria bem, por exemplo, para destruir tanques, embora a sobrepressão mataria as pessoas neles. Ela coloca as pessoas escondidas nas cavernas lá sobre uma pressão excessiva. Você não iria gostar de encontrá-las; essa bomba simplesmente arranca os pulmões para fora pela boca. Isso meio que vira você pelo avesso.”
O uso de bombas de ar-combustível no Afeganistão remonta ao início da chegada dos militares dos EUA após os ataques do 11 de setembro em Nova York e Washington-DC. A Força Aérea derrubou várias bombas de ar BLU-82 — um predecessor menor da MOAB — durante os primeiros dias de combate ao Talibã e à Al Qaeda, incluindo a Batalha de Tora Bora em dezembro de 2001. O uso da BLU-82 — também conhecida como “Daisy Cutter” — foi eliminado nos anos subsequentes. “Esta é uma munição difícil de usar”, diz A. J. Clark, ex-analista de inteligência militar e presidente da Thermopylae Sciences + Technology, fornecedora de tecnologia de inteligência geoespacial. “Pode fazer sentido se há uma concentração de tropas inimigas, mas não é algo que você quer usar quando você tem tropas aliadas ou civis na vizinhança. Não há como controlar isso.”
A decisão de usar a MOAB neste momento foi provavelmente tanto política como estratégica. “Mais do que qualquer outra coisa, sempre que você lançar uma dessas, você quer fazer uma declaração audaciosa, neste caso para reforçar nossa determinação de lutar no Afeganistão”, diz Priest, acrescentando que essas bombas produzem uma grande nuvem de cogumelos que pode ser vista por quilômetros.
Clark concorda. “Estes tipos de bombas foram desenvolvidos tanto pelo seu impacto psicológico quanto por qualquer outra coisa”, diz ele. Os militares usam bombas de “destruição de bunker” para penetrar no solo em certas situações, mas as cavernas que eles estavam alvejando são provavelmente profundas demais para algo assim ter algum efeito, acrescenta Clark. Depois de chegar a um impasse no Afeganistão nos últimos cinco anos, ele acha que o bombardeio de Nangarhar diz “estamos levando as coisas para um novo patamar no Afeganistão”.
Imagem de capa: Uma bomba “Massive Ordnance Air Blast” — do inglês, “artilharia de explosão maciça de ar” — ou mais comumente conhecida como a Mãe de Todas as Bombas” (MOAB), sendo preparada para ser testada no Centro Eglin de Armamento da Força Aérea em 11 de março de 2003. A MOAB é uma munição de precisão com cerca de 9800 kg e que será solta de um avião Hercules C-130 para o teste. É uma das maiores armas convencionais (não nucleares) existentes. A MOAB é produto de um projeto de tecnologia do Laboratório de Pesquisa da Força Aérea, que começou no ano fiscal de 2002 e estava programado para ser concluído em 2003. Crédito: Departamento de Defesa dos EUA. Fotografia: Wikimedia [Domínio público].
Texto da Scientific American, leia o original aqui.