O que é CRISPR? Descubra a incrível ferramenta que revolucionou a genética

Felipe Miranda
Imagem: Ernesto del Aguila III, National Human Genome Research Institute, NIH
Destaques
  • CRISPR é uma ferramenta de edição de genes que permite a "reprogramação" de partes do DNA.
  • Seus possíveis benefícios incluem a cura de defeitos e doenças genéticas, bem como o aprimoramento de culturas agrícolas.
  • Batizada com o nome de "Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic repeats" (repetições palindrômicas curtas regularmente espaçadas), a ferramenta funciona usando as proteínas Cas9 para cortar e adicionar novas sequências ao DNA.
  • A descoberta foi agraciada com o Prêmio Nobel de Química em 2020; é barata e simples o suficiente para ser feita com equipamentos básicos em sua própria casa.

Imagine só editar o genoma de uma pessoa. Isso é literalmente acessar e editar o código genético de uma pessoa. Essa descrição se parece muito com algo que aconteceria apenas na ficção científica, longe de nossa realidade. Lembra algo como um episódio esquisito de Black Mirror (até o nome parece meio ficcional: CRISPR). Entretanto, a edição genética é algo que está se tornando cada vez mais próxima de nós. O CRISPR é uma ferramenta de edição genética extremamente simples e poderosa. Ela permite “reprogramar” partes do DNA de um ser vivo.

Como todas as tecnologias há, obviamente, os pontos bons e os pontos negativos: a ferramenta permite uma série de tratamentos genéticos, como a correção de defeitos genéticos que possam levar a doenças e problemas de saúde, tratamento e prevenção de doenças.

Por exemplo, uma mulher grávida descobre, durante a gestação, que seu bebê nascerá com algum problema decorrente de um defeito ou mutação genética após um mapeamento genético. Dessa forma, os pesquisadores podem editar o genoma, incluindo ou retirando alguma parte de forma a sanar esse problema. Não só em fetos, a edição pode ser realizada em qualquer pessoa — ou qualquer organismo vivo.

Além disso, além das aplicações nos humanos, o CRISPR permite melhorias em culturas agrícolas, melhorando a resistência das plantas à pragas e até mesmo aumentando sua produtividade. E como a alteração é genética, essas mudanças são hereditárias. Se você eliminou uma tendência em uma pessoa a uma doença específica – como uma tendência fenótipa ao câncer – os seus descendentes também carregarão a mutação.

Entre os pontos negativos, estão uma série de implicações éticas. O uso da edição do DNA pode ultrapassar barreiras perigosas – como ações racistas e eugenistas. Em um futuro distópico, o CRISPR pode trazer um mundo onde edições genéticas são feitas para “melhorar” as pessoas, e quem não está nesse grupo restrito pode ser segregado.

Como funciona a edição genética do CRISPR?

CRISPR é uma forma abreviada do nome CRISPR-Cas9. O nome CRISPR vem da frase ‘Custered Regularly Interspaced Short Palindromicrepeats‘, ou ‘repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente espaçadas’, na tradução para o português. O CRISPR é uma área no material genético das bactérias arqueas onde há uma série de repetições intercaladas com DNAs virais que infectaram esses organismos ou seus antepassados.

CRISPR
Imagem: National Human Genome Research Institute (NHGRI)

Basicamente, quando o vírus invade a bactéria, o CRISPR funciona como um sistema imunológico. Essas sequências retiram parte do genoma viral e o incorporam a esse lócus no genoma bacteriano. Dessa forma, a bactéria possui um histórico da vírus, e quando é invadida novamente, por meio de alguns mecanismos, é capaz de neutralizar a ameaça.

A proteína Cas9 é a grande responsável pela edição. Ela é capaz de recortar uma parte específica do DNA e juntar as pontas – como se você estivesse realizando um corte em uma edição de vídeo. Além disso, podemos incluir uma nova sequência nas duas pontas do recorte.

Importância e perigo

A descoberta foi importantíssima para nossa compreensão do DNA. Em 2020, Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna ganharam o Nobel da química. O método de edição genética desenvolvido pelas pesquisadoras em 2012 permitem uma edição genética extremamente precisa.

“Há um enorme poder nessa ferramenta genética, que afeta a todos nós. Não só revolucionou a ciência básica, mas também resultou em culturas inovadoras e levará a novos tratamentos médicos inovadores”, disse na época da premiação Claes Gustafsson, presidente do Comitê Nobel de Química.

O método é extremamente barato e simples e pode ser literalmente feito em sua garagem – é claro, com um tanto de conhecimento e de investimento nos equipamentos necessários. Mas ainda assim, é algo que uma pessoa física pode bancar. É esse um dos motivos que trazem as grandes implicações éticas da tecnologia: pessoas mal intencionadas podem realizar facilmente a edição genética.

Compartilhar