Em 2007, foi encontrado um fóssil incomum, um esqueleto de réptil muito pequeno, com cerca de 90 mm de comprimento e uma idade aproximada de 131 a 120 milhões de anos, na formação geológica de Yixian, província de Liaoning, no nordeste da China, presumivelmente embrionário ou neonatal, com duas cabeças e dois conjuntos de vértebras cervicais, o que parece ser o registro mais antigo de tal malformação de desenvolvimento em vertebrados, conhecida como bifurcação axial, bem documentada em vários grupos de répteis hoje em dia, especialmente entre as tartarugas, cobras e outros mais.
Este fóssil é um réptil de Diapsídeo (Sinohydrosaurus lingyuanensis), da Formação Yixian, hoje se encontra no Museu Paleontológico de Shenzhen, na China. O revestimento muito fino do sedimento ainda parcialmente cobrindo alguns dos ossos mostra que o espécime não foi adulterado.
Além de seu tamanho pequeno (comprimento total até 90 mm), a atitude enroscada sugere que eles ainda estavam em uma posição embrionária quando foram fossilizados. Suas características, como coluna vertebral alongada na parte cervical (pescoço), e a brevidade dos membros, sugerem que são indivíduos jovens de Diapsídeo aquático de pescoço longo da classe Reptilia, ordem Choristodera, família Hyphalosauridae e do gênero conhecido por ter dois nomes Sinohydrosaurus lingyuanensis e Hyphalosaurus lingyuanensis.
Diapsida é um grupo de vertebrados terrestres que inclui os lagartos, tuataras, crocodilos e aves; além de inúmeras ordens de répteis pré-históricos incluindo dinossauros, pterossauros, plesiossauros, notossauros, rincossauros, prolacertiformes e aetossauros.
Possuem esse nome por possuírem duas aberturas na região temporal do crânio, ao contrário dos Synapsida (à qual pertencem os mamíferos), que possuem apenas uma fenestra temporal.
O Choristodera, pode exceder 1 metro de comprimento quando adulto, pertence a um grupo bastante diverso encontrado nas formações do Nordeste Chinês, tanto com a forma de pescoço longo acima mencionada, como os gêneros de pescoço curto, “Monjurosuchus e Ikechosaurus”.
A preservação deste espécime de duas cabeças é relativamente boa, mas os detalhes osteológicos foram obscurecidos pelos esmagamentos. A amostra evidencia um único corpo com uma cauda longa enrolada, os membros posteriores, as vértebras dorsais e a caixa torácica e os membros anteriores, bem preservados. A coluna vertebral se divide em duas séries cervicais a partir do nível da cintura escapular, formando dois pescoços longos que terminam em dois crânios. O número total de vértebras cervicais não pode ser determinado com precisão, mas é claro que a maioria ou todas as vértebras cervicais foram duplicadas (há 19 vértebras cervicais em Sinohydrosaurus lingyuanensis, e as partes separadas dos pescoços da amostra malformada incluem pelo menos 16 vértebras). O tamanho pequeno e a fragilidade extrema do fóssil impedem qualquer outra preparação.
Este espécime é claramente um exemplo de uma malformação do desenvolvimento conhecida como bifurcação axial. Ao afetar a parte anterior do corpo, resulta em espécimes anormais de duas cabeças que também podem apresentar uma duplicação mais ou menos completa do pescoço, dependendo do número de vértebras cervicais envolvidas. A duplicação axial resulta da divisão imperfeita de um único blastoderme, como consequência da regeneração após uma lesão embrionária, assim sendo classificado com um defeito “congênito”. Esse tipo de anormalidade ocorre com relativa frequência nos répteis modernos (chegam a viver durante vários anos em cativeiro), como tartarugas, crocodilos, lagartos, cobras e outros mais. Pouco se sabe sobre a teratologia (neoplasias, hiperplasias e malformações embrionárias) de vertebrados extintos, e este réptil de duas cabeças parece ser único no registro fóssil antigo.
A Formação Yixian é constituída por sedimentos de lagoas, de grãos finos interpostos com rochas vulcânicas do início do período Cretáceo, e é bem conhecida por seus fósseis muito bem preservados, incluindo “dinossauros com penas”, fazem partes do famoso ‘Jehol Biota’ (biodiversidade de Jehol). Denomina-se dessa forma, os organismos que habitaram os ecossistemas do nordeste da China, ao redor 131-120 milhões de anos (Cretáceo inferior).
Sendo assim, chama-se grupo Jehol ao conjunto composto pelas formações de Dabeigou, Yixian e Jiufotang, região onde existiu a biodiversidade de Jehol, onde foram encontrados vários restos fósseis de mais de 60 espécies de plantas, mais de mil de invertebrados e umas 70 espécies de vertebrados. O estudo desta fauna é importante, já que proporciona um material fóssil bastante interessante para se descobrir mais sobre a evolução de distintos táxons (anfíbios, aves, angiospermas e outros.), a origem das penas e do voo, e a co-evolução de insetos polinizadores de plantas com flores. Sua geologia de origem lacustre (sedimentos de lagos), consistem em materiais de silicato com quartzo fragilmente laminados, depositados em ambientes pouco energéticos (velocidade baixa do transporte dos sedimentos da massa de água). Intercalados entre esses sedimentos se encontram níveis de rochas vulcânicas (ígneas) e diques.
Estima-se que a biota de Jehol habitou a Terra durante um período de tempo de 11 milhões de anos, desde o Hauteriviense até o Aptiense (131-120 milhões de anos).
A Biota de Jehol, no período Cretáceo, era vitima de grande atividade tectônica, vulcanismo intenso com erupções frequentes, aumento da temperatura e mudanças na paleogeografia da zona. Acredita-se que este ambiente cambiante pôde acelerar a seleção natural, e com ela a especiação.
Outro fóssil interessante encontrado no início da década de 1990 é o de Archaeopteryx, com penas bem preservadas. Hoje há mais de vinte gêneros de fósseis de dinossauros com penas, quase todos encontrados na Formação de Yixian, na china com cerca de 131-120 milhões de ano.
As formações do grupo Jehol contribuíram essencialmente para as classificações taxonômicas daquela época, com os descobrimentos de varias novas espécies, além de nos ajudar com a pista da origem das penas, um órgão termodinâmico que adaptou a voar, e a co-evolução de plantas com flores e seus insetos polinizadores. Seus fosseis extremamente bem conservados e diferenciados em uma grande biodiversidade nos leva em uma viagem no tempo e nos mostra o como é incrível e enigmático a maior das tecnologias, a vida.