O lixo espacial só aumenta à medida que adicionamos lixo ao espaço a uma taxa muito maior do que ele reentra que queima na atmosfera. Portanto, esse material se acumula, colocando em risco a integridade de satélites em órbita e, de certa maneira, até mesmo astronautas viajando nas cápsulas espaciais, já que existe um risco de choque.
Em 2020, por exemplo, um satélite soviético já aposentado e um estágio superior de um foguete abandonado quase colidiram em órbita. Um choque entre dois objetos criaria estilhaços velozes e poderosos, o que poderia ainda danificar outros objetos, ainda em operação, ou até mesmo colocar vidas humanas no espaço em risco.
Uma das saídas para o problema está em utilizar pequenos propulsores nos próprios foguetes para fazê-los queimar na atmosfera, ou em fazer como Elon Musk, e trazê-los de volta para reutilizar (mas ainda abandona o estágio superior). No entanto, trata-se de uma saída não imediata — imediato mesmo seria forçar uma reentrada. Mas Jeffrey Manber, CEO da empresa de logística espacial Nanoracks, possui uma ideia para o lixo espacial, conforme relatou a revista Wired — o projeto Outpost.
De lixo espacial para utilidade
A ideia dele é transformar estágios superiores de foguetes em pequenas estações espaciais. “A NASA considerou a ideia de reformar os tanques de combustível várias vezes. Mas sempre foi abandonado, geralmente porque a tecnologia não estava lá”, explicou Manber à Wired. Mas ele pensa que a tecnologia já chegou, e quer fazer isso utilizando robôs, o que é muito mais prático, rápido e barato do que levar humanos para construir. Por exemplo, os astronautas construíram a ISS (Estação Espacial Internacional), entre 1998 e 2011 — um período de 13 anos, além de gastos de bilhões de dólares. Já operam a ISS antes, é claro; mas a conclusão oficial ocorreu em 2011.
Ele quer fazer os primeiros pedaços com estágios novos, levados ao espaço especialmente para isso. No entanto, o projeto fabricaria extensões das estações, ou novas estações com estágios no espaço, à medida que a técnica e a tecnologia se desenvolvesse.
E não, o espaço não é pequeno. Ele cita o exemplo do Falcon 9, da SpaceX, um foguete especializado em lançar satélites, cápsulas de humanos e de carga para a ISS e outras cargas consideravelmente pequenas semelhantes. Um estágio superior do Falcon 9 possui 3,6 metros de diâmetro e 9 metros de altura. Esse é o pedaço que permanece o espaço; a SpaceX recupera apenas o estágio inferior. Isso é suficiente para um “apartamento” espacial. Além disso, de fábrica eles já possuem a resistência para suportar a pressão necessária. São perfeitos para isso.
Problemas
Nem tudo são flores, no entanto. Como primeiro desafio, a empresa precisará limpar os foguetes, eliminando quaisquer resquícios de combustível e não arriscar uma explosão — ou uma intoxicação, quando ocorresse uma visita humana sem o traje.
O segundo desafio principal está na metalurgia e engenharia. Ninguém nunca tentou isso. Claro que é possível — mas é extremamente difícil. Manber quer fazer, antes, pequenas demonstrações no espaço como treinamento, para depois construir a primeira estação. “Estamos focados em mostrar que podemos controlar o estágio superior com acessórios. Mas, no futuro, imagine um monte de pequenos robôs subindo e descendo o estágio para adicionar mais conectores e coisas assim”, disse Manber.
A empresa pretende realizar a primeira demonstração já em maio. Eles querem lançar um braço robótico e pedaços de metais do mesmo material e espessura do que os estágios superiores de foguetes, e o robô cortará precisamente o metal sem gerar resíduos, dando origem ao primeiro corte de metal no espaço em toda a história. Outros desafios para o Outpost relacionam-se a implicações legais, autorização das empresas para a utilização dos materiais, entre outros trâmites burocráticos.