Dolly, a famosa ovelha Finn-Dorset, nasceu em 5 de julho de 1996 e representou um marco científico revolucionário ao ser o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a partir de uma célula adulta. Ela foi resultado de um processo pioneiro de clonagem realizado por cientistas do Instituto Roslin, na Escócia, liderados por Ian Wilmut e Keith Campbell.
O que torna a história de Dolly ainda mais extraordinária é o fato de que ela teve três “mães” envolvidas em seu nascimento, cada uma desempenhando um papel fundamental no processo.
No entanto, Dolly não foi apenas um avanço na ciência; ela desempenhou um papel fundamental na criação de uma nova indústria comercial: a clonagem de animais. A partir do momento em que a clonagem se tornou uma realidade, a pergunta que muitos vieram a fazer foi: “O que mais podemos clonar?” As respostas a essa pergunta variaram muito.
Muitas pessoas, por exemplo, ficaram empolgadas com a ideia de clonar seus animais de estimação, revivendo a companhia de seus cães ou gatos queridos. Mas, além disso, surgiu o interesse em clonar animais de grande valor comercial, como aqueles usados em fazendas, ou até mesmo espécies raras que eram difíceis ou ilegais de manter.
Essa tecnologia, que inicialmente parecia distante e complicada, logo começou a ser aplicada em contextos que iam muito além dos laboratórios de pesquisa. Um dos exemplos mais marcantes desse uso indevido aconteceu recentemente, quando Arthur Schubarth, um fazendeiro com mais de 80 anos, foi condenado a seis meses de prisão por ter clonado uma ovelha.
Apesar de sua idade avançada, Schubarth foi responsabilizado por usar técnicas ilegais de clonagem para reproduzir um animal, o que mostra como essa tecnologia pode facilmente ultrapassar limites legais e éticos.
A clonagem como um serviço
Desde 1996, a clonagem avançou enormemente e, assim como a computação, se tornou um serviço acessível. Hoje, basta enviar células para uma empresa especializada, que cria embriões clonados e os armazena. Quando desejar, você pode envia-los para casa para implantação em uma mãe substituta animal.
Arthur Schubarth, dono de uma fazenda de caça de mais de 84 mil hectares em Montana chamada Sun River Enterprises, viu nesse avanço uma oportunidade de lucro. Ele vendia ovelhas e cabras para fazendas de caça onde os animais eram abatidos por esporte.
Os caçadores buscavam “troféus”, e o argali Marco Polo, a maior e mais selvagem ovelha do mundo, com mais de 136 quilos e enormes chifres, era uma das mais cobiçadas. Para completar um “Ovis World Slam”, que exige abater 12 variedades de ovelhas selvagens ao redor do mundo, os caçadores precisam caçar ovelhas argalis, que habitam as montanhas da Ásia Central, principalmente no Paquistão, Afeganistão, Quirguistão e Tajiquistão.
No entanto, essas ovelhas são protegidas pelas leis internacionais e americanas de preservação. Schubarth, em vez de seguir as regulamentações de importação, enviou seu filho ao Quirguistão, onde ele caçou ilegalmente um argali em 2012 e novamente em 2013, trazendo partes dos animais sem declaração.
Com as células somáticas desse último argali, Schubarth fechou um contrato com uma empresa de clonagem e, em 2016, recebeu 165 embriões clonados. No ano seguinte, nasceu a primeira ovelha argali Marco Polo nos Estados Unidos, batizada de “Montana Mountain King“.
Atividade ilegal
Schubarth esteve profundamente envolvido na inseminação de ovelhas com o sêmen de seu argali clonado, Montana Mountain King. Ele usava esse material genético para inseminar ovelhas locais e enviar “canudos” de sêmen para compradores no Texas.
Toda essa operação envolveu falsificação de documentos, mostrando que Schubarth sabia que estava infringindo uma lei. Ele até conseguiu obter permissão especial do estado de Montana para manter ovelhas argali, mas, após uma recusa, decidiu continuar sua atividade ilegal.
O que começou como um plano para criar ovelhas maiores logo atraiu a atenção das autoridades federais, que, no início de 2024, o acusaram de tráfico de animais e conspiração. Schubarth se declarou culpado e, segundo o governo, “demonstrou remorso e colaborou”.
Ele permitiu a entrada das autoridades em sua fazenda para testes genéticos e ajudou a colocar os animais em quarentena. O argali clonado, Montana Mountain King, foi confiscado, e alguns dos animais foram abatidos, com a carne doada para famílias carentes de Montana.