O enigma da árvore fossilizada é resolvido após 66 milhões de anos

Daniela Marinho
Réplica fóssil de um espécime de pinheiro Woolemi com 90 milhões de anos. Imagem: Chris McGrath/Getty Images

Acredita-se que o pinheiro Wollemi tenha entrado em extinção há aproximadamente dois milhões de anos, tornando-se uma relíquia perdida nas páginas distantes da história da Terra. No entanto, o curso inesperado dos acontecimentos ocorreu quando, em 1994, um grupo de caminhantes dedicados à exploração das vastas e misteriosas paisagens florestais descobriu este tesouro botânico anteriormente considerado extinto. Esta redecoberta abriu as portas para uma investigação científica apaixonante, desafiando as noções convencionais sobre a sobrevivência das espécies ao longo de milênios e ampliando a compreensão de como essa árvore fossilizada sobreviveu por tanto tempo e quase inalterada. Uma réplica fóssil de um espécime de pinheiro Woolemi com 90 milhões de anos.

Árvore fossilizada desde o tempo dos dinossauros

Intitulado de “fóssil vivo” por muitos especialistas em botânica, a árvore fossilizada, ou o pinheiro Wollemi (Wollemia nobilis), surge como uma relíquia que se assemelha às formas preservadas que ecoam do distante período Cretáceo, compreendido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás – quando os dinossauros ainda habitavam a Terra.

Atualmente, a natureza abriga apenas um grupo escasso de 60 exemplares dessas árvores, cuja tenacidade se torna ainda mais admirável quando se considera a ameaça constante que enfrenta devido aos recorrentes incêndios florestais na região que habita. Surpreendentemente, acredita-se que essa espécie tenha sido apagada do cenário botânico há aproximadamente dois milhões de anos, o que torna sua existência contemporânea ainda mais intrigante.

Contudo, em um desdobramento científico, uma equipe de pesquisadores da Austrália, dos Estados Unidos e da Itália uniu esforços para decifrar o genoma do pinheiro Wollemi. Esse feito científico inovador não apenas revela informações preciosas sobre a evolução dessa espécie única, mas também oferece insights cruciais sobre seus hábitos reprodutivos peculiares.

Além disso, o estudo assume um papel crucial no contexto dos esforços de conservação em andamento para salvaguardar a sobrevivência daquelas árvores únicas em um mundo em constante mudança.

O caminho para a resolução da árvore fossilizada

O artigo científico resultante desse trabalho pioneiro foi disponibilizado no banco de dados de pré-impressão bioRxiv em 24 de agosto, embora valha ressaltar que ainda não passou pelo processo de revisão por pares. Esse avanço, no entanto, representa um marco significativo no entendimento da história e da situação atual do pinheiro Wollemi, oferecendo esperança para sua preservação e para a continuação de uma das histórias mais notáveis ​​da flora terrestre.

arvore fossilizada
Imagem: Dave Watts/Getty Images

O pinheiro Wollemi revela uma complexidade genética impressionante, abrigando um total de 26 cromossomos e ostentando uma coleção impressionante de 12,2 bilhões de pares de bases. Para efeito de comparação, é notável que os seres humanos, enquanto espécie, possuem apenas cerca de 3 bilhões de pares de bases em seu genoma. Esse abismo em termos de tamanho genômico entre os pinheiros Wollemi e os humanos eleva ainda mais o mistério em torno dessa espécie botânica.

No entanto, uma das revelações mais intrigantes que surgem dessa investigação genética é um paradoxo da diversidade genética extremamente limitada presente nos pinheiros Wollemi. Essa característica sugere um evento dramático no passado, um estrangulamento populacional que ocorreu há aproximadamente 10.000 a 26.000 anos atrás, quando a variabilidade genética foi significativamente reduzida. Esta matéria evolutiva levanta questões profundas sobre como essa espécie conseguiu sobreviver e persistir com sucesso com um patrimônio genético tão restrito.

Decodificação do genoma

A análise detalhada do genoma do pinheiro Wollemi revelou um intrigante quebra-cabeça evolutivo relacionado à sua suscetibilidade a doenças, notadamente em face da presença do patógeno aquático Phytophthora cinnamomi, conhecido por desencadear a morte nas plantas hospedeiras.

Essa investigação genética descobriu que a árvore possui genes de resistência a doenças que, paradoxalmente, são silenciadas por meio de um mecanismo envolvendo um tipo específico de RNA intrínseco, que, por sua vez, está associado ao desenvolvimento de folhas de maior largura. Uma característica notável dos pinheiros Wollemi, em contraste com a maioria das coníferas, reside em suas agulhas notavelmente largas.

Esta revelação entre o desenvolvimento de folhas mais largas e a supressão dos genes de resistência a doenças sugere uma evolução intrincada que pode ter inadvertidamente colocada a espécie em risco, tornando-a suscetível a ameaças patogênicas. Tais mudanças genéticas podem ter sido um fator prejudicial para a vulnerabilidade da espécie, com implicações de grande relevância na conservação e no manejo.

Apesar de sua presença na natureza ter sido reduzida a meras quatro pequenas populações, os pinheiros Wollemi têm sido alvo de uma iniciativa ampla e determinada de propagação conduzida por jardins botânicos e outras instituições científicas. Essa missão abrangente tem um duplo propósito: preservar essa espécie rara e, ao mesmo tempo, abrir caminho para estudos profundos sobre sua biologia.

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