Pesquisadores estão testando nuvens artificiais como forma de ajudar na preservação dos corais da Grande Barreira de Corais. Do navio, a 100 km da costa australiana, os cientistas disparam uma turbina que sopra uma névoa com gotículas de água do mar. Depois de um breve desvio ao longo da superfície do oceano, a pluma consegue subir em direção ao céu.
Entre 1995 e 2017, a Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade dos seus corais com eventos extremos de ondas de calor.
Se os próximos testes forem bem-sucedidos, os resultados podem determinar o futuro da Grande Barreira de Corais. As névoas colocadas no ar iluminam as nuvens e bloqueiam a luz solar, fornecendo sombra para as colônias de corais no mar.
Os cientistas utilizaram sensores a bordo do navio, drones e um segundo barco para monitorar a pluma à medida que migrava para o céu.
O teste realizado não foi suficientemente grande para alterar as nuvens. Mas os resultados preliminares dos testes de campo sugerem que a tecnologia poderia ter um desempenho ainda melhor do que os modelos sugeriram, diz Daniel Harrison, oceanógrafo e engenheiro da Southern Cross University, Austrália, chefe da pesquisa. “Estamos agora muito confiantes de que podemos levar as partículas para as nuvens”, diz Harrison. “Mas ainda temos de descobrir como é que as nuvens vão reagir”.
Nuvens artificiais
O projeto de Harrison é o primeiro ensaio de campo a nível mundial sobre o brilho das nuvens marinhas, uma das várias tecnologias controversas de geoengenharia que os cientistas têm estudado em laboratório durante décadas.
Harrison salienta que o projeto das nuvens artificiais se refere a adaptação local às mudanças climáticas e não com a geoengenharia global, porque a sua aplicação seria limitada tanto no espaço como no tempo.
Os modelos ecológicos sugerem que uma intervenção em larga escala envolvendo múltiplas estratégias poderia prolongar a vida do recife enquanto os governos trabalham para eliminar as emissões de gases com efeito de estufa.
Para dentro das nuvens
Harrison realizou o seu primeiro teste de campo em março de 2020: uma expedição de três dias. A equipe tinha instrumentação científica limitada para monitorizar a névoa, mas era suficiente para documentar que a pluma fluía da sua máquina de névoa para uma corrente de ar quente para o céu.
Era a primeira vez que tinham testemunhado este fenômeno. Os seus modelos tinham sugerido que a evaporação das gotículas de água do mar esfriaria a pluma, que depois flutuaria através da superfície do oceano, misturando-se lentamente para cima nas nuvens marinhas baixas. Os modelos também indicavam o risco de as gotículas minúsculas se fundirem e caírem do ar. Em vez disso, gotículas flutuaram ao longo da superfície do oceano durante meio quilômetro, perdendo gradualmente água e peso até à evaporação ao longo do caminho. E depois dispararam para cima.
“Não esperávamos isso”, diz Harrison, “mas afinal estávamos realizando esta experiência no meio de uma massa de ar ascendente”.
Há algumas críticas sobre a pesquisa, de como ela pode acarretar riscos ecológicos ao mexer no sistema atmosférico de forma artificial. Assim como diminui os esforços para limitar os gases com efeito de estufa.
No entanto, Harrison e sua equipe continuarão os testes da pesquisa. Os cientistas planejam aumentar a pressão da névoa introduzida na atmosfera, aumentando até seis vezes as partículas das nuvens artificiais. Assim como irão utilizar novos instrumentos para determinar como as partículas alteram as nuvens.
Harrison está confiante que as nuvens artificiais poderiam ajudar nos recifes, mas também é realista quanto ao futuro se os governos não conseguirem limitar as emissões de carbono. “Há apenas tantas nuvens disponíveis, e há apenas tantas que podemos iluminar”, diz ele. “Eventualmente, as mudanças climáticas podem ultrapassar essas medidas”.