Novo dinossauro “sem braços” é descoberto

Dominic Albuquerque

Um novo dinossauro “sem braços” foi descoberto por paleontólogos na Argentina. O carnívoro caminhou sobre a Terra há cerca de 70 milhões de anos atrás, segundo novo estudo.

Nomeada como Guemesia ochiai, a espécie recém-encontrada pertence aos Abelisauridae, um clado (grupo de espécies com um ancestral comum) de carnívoros que vivia nas regiões correspondentes à América do Sul, África e Índia.

O crânio do G. ochoai é o único do seu tipo a ser encontrado no noroeste da Argentina e diferentemente de outros abelissaurídeos, é “notavelmente pequeno”.

Já existem 35 outras espécies de abelissaurídeos encontradas no país sul-americano, mas a maioria é da Patagônia. A descoberta do G. ochiai e outras espécies extraordinárias, como uma tartaruga gigante com um casco de um metro, sugerem que a região nordeste da Argentina era um lugar único no mundo durante o Cretáceo Superior.

A fisionomia do novo dinossauro “sem braços”

É possível que o novo dinossauro “sem braços” seja um parente próximo dos ancestrais dos abelissaurídeos, ainda que com algumas diferenças específicas.

Por ter sido encontrado bem distante dos seus relativos da Patagônia, os pesquisadores sugerem que o grupo de dinossauros poderia ter vivido em diferentes ecossistemas. O G. ochoai diferencia-se dos outros abelissaurídeos por não possuir chifres, talvez devido aos ancestrais do clado não os terem desenvolvido ainda, na época.

“Esse novo dinossauro é bem incomum para o seu tipo”, a coautora do estudo e líder de pesquisa do Museu de História Natural de Londres, Anjali Goswami, declarou em comunicado à imprensa. “Ele demonstra que os dinossauros que viviam nessa região eram bem diferentes daqueles em outras partes da Argentina, reforçando a ideia de províncias distintas no Cretáceo da América do Sul”.

Uma característica única desse dinossauro são as fileiras de pequenos orifícios na região frontal do crânio, conhecidos como forames. Os pesquisadores acreditam que esses buracos poderiam servir como resfriamento para o animal, enquanto o sangue bombeado para a pele fina na frente da cabeça liberava calor.

Como diversos abelissaurídeos, o crânio do G. ochoai é pequeno. Contudo, o da nova espécie é 70% menor que dos seus parentes, o que indica que poderia pertencer a um jovem, ainda que a evidência sobre isso não seja conclusiva.

Acredita-se que o grupo caçava titanossauros de pescoço longo, um feito surpreendente devido aos braços pequenos que possuíam – e que eram apenas estruturas vestigiais, sem uso prático. Com braços desse tamanho, os abelissaurídeos capturavam suas presas usando quase somente a cabeça e suas mandíbulas ameaçadoras.

Apenas o crânio do espécime foi encontrado, o que torna difícil mensurar o tamanho do G. ochoai comparado a outros do clado. Contudo, o comunicado a imprensa do museu o comparou com o Carnotaurus sastrei, exibido abaixo.

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Ilustração do abelissaurídeo chifrudo Carnotaurus sastrei.  (Créditos da imagem: Fred Wierum; CC BY 4.0 via Wikimedia Commons)

As descobertas do Cretáceo Superior

Os autores escrevem que, “durante o Cretáceo Superior, a América do Sul foi dividida nas regiões nordeste e sudoeste por um corredor marinho que serviu como filtro para certos vertebrados. As fortes diferenças morfológicas exibidas pelo Guemesia em contraste aos outros abelissaurídeos pode ser uma prova adicional da distinção biogeográfica do nordeste argentino durante o Cretáceo Superior”.

Anjali acredita que ainda há muito a ser aprendido com os fósseis da região. O foco principal é em compreender os períodos logo antes e depois do fim do Cretáceo, durante a extinção em massa que devastou os dinossauros da época, para entender como esse evento moldou a vida na Terra.

“Entender grandes eventos globais como uma extinção em massa necessita de conjuntos globais de dados, mas há muitas partes do mundo que não foram estudadas em detalhe, e toneladas de fósseis ainda não foram descobertas”, diz a pesquisadora.

“Nós deixamos fósseis empolgantes no chão em nossa última viagem, sem saber que iria demorar anos antes de podermos retornar para nossos locais de campo. Agora esperamos que não demore tanto antes de podermos terminar de cavá-los e descobrir muitas outras espécies dessa distinta fauna”.

O estudo foi publicado no Journal of Vertebrate Paleontology.

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