Neandertais dominavam produção de farinha há 40 mil anos

Descoberta arqueológica revela que os Neandertais possuíam habilidades de processamento de alimentos mais avançadas do que se pensava.

Felipe Miranda
Imagem: Fabio Negrino.

Há muitas coisas que são atribuídas aos Homo sapiens, mas que os Neandertais já faziam. Cada vez mais os cientistas descobrem sobre a capacidade cognitiva dos Neandertais. Produção de símbolos, arte, uso bastante complexo de ferramentas. São esses e outros os comportamentos até pouco tempo atrás não atribuídos aos Neandertais.

Agora, pesquisadores publicaram no periódico Quaternary Science Reviews um estudo que fazem revelações importantes sobre a relação do processamento de alimentos e os neandertais.

“A evidência do processamento de alimentos vegetais é um indicador significativo da capacidade humana de explorar os recursos ambientais”, diz o abstrato do artigo, evidenciando a importância do domínio do processamento de alimentos para uma espécie humana.

Evidências que datam de 39.000 a 43.000 anos atrás mostram que a moagem para processamento de alimentos remontam a uma época anterior à imaginada. A moagem de grãos e processamento de alimentos é, na verdade, originada no período de transição entre os neandertais e os sapiens.

“Isso empurra para trás em vários milhares de anos as primeiras evidências de processamento de plantas e produção de farinha”, disse em um comunicado Julien Riel-Salvatore, professor da Universidade de Montreal e coautor do estudo. Riel-Salvatore é diretor do departamento de antropologia da universidade.

A evidência foi encontrada na Itália por uma equipe internacional de cientistas.

“Um pilão de Riparo Bombrini, um local no norte da Itália no qual eu e meu colega da Universidade de Gênova, Fabio Negrino, trabalhamos há mais de 20 anos, mostra que os neandertais também se envolveram nesse comportamento, que é algo completamente novo, para nosso conhecimento”, diz Riel-Salvatore. ” Então é uma descoberta muito grande”

As descobertas ocorreram em sítios arqueológicos de cerca de 1000 km de distância: Riparo Bombrini, no sítio arqueológico Balzi Rossi, na Ligúria, e Grotta di Castelcivita, no sopé de Alburni, na Campânia, ambos locais na Itália. Os pesquisadores explicam no artigo que “ambos [os locais] habitados durante uma fase crucial que abrange o declínio dos neandertais e o estabelecimento de Sapiens”.

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Imagem: Quaternary Science Reviews.

Os pesquisadores encontraram, em rebolos de pedra, grãos de amido com diversas morfologias diferentes, indicando, conforme os pesquisadores, o processamento de plantas e cereais. Segundo a equipe, as evidências mostram que “os últimos neandertais não apenas consumiram e processaram plantas, mas também fizeram farinha há 43-41.000 anos”.

“Transformar cereais em farinha é uma inovação importante porque permitiu que as forrageiras paleolíticas armazenassem e transportassem alimentos com mais facilidade”, explica Riel-Salvatore no comunicado da universidade de Montreal. “Empurrar esse comportamento para trás no tempo realmente muda como pensamos sobre como essas pessoas altamente móveis viviam”.

No artigo, os cientistas explicam que não é tão simples para um povo pré-histórico dominar a produção de farinha, pois “a produção de farinha requer um procedimento de várias etapas, desde a colheita até o cozimento, para obter um alimento adequado, digerível e de alta energia”.

“Além disso, a variedade de ferramentas utilizadas ilustra a adaptação dessa tecnologia a diferentes plantas e contextos econômicos/ambientais”, explicam os pesquisadores.

A importância do processamento de alimentos

Produzir e armazenar farinha traz algumas vantagens a um grupo de pessoas.

“Em relação aos alimentos vegetais, a introdução de novas tecnologias, como a moagem e o cozimento, aumentou a variedade de plantas utilizadas como alimentos, tornando comestíveis até mesmo plantas que não eram adequadas como alimento quando cruas”, explicam os pesquisadores no artigo.

Eles dizem que a grande importância da farinha é seu poder calórico e a versatilidade na alimentação.

“A farinha é um alimento altamente calórico que pode ser usado para receitas variadas ricas em carboidratos, como mingau, biscoitos etc”.

Portanto, para um povo com alimentação restrita, onde a agricultura ainda não é dominada, a farinha pode exercer uma influência gigantesca na alimentação de um grupo.

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