O Pão de Açúcar é um famoso ponto turístico do Rio de Janeiro. Tão famoso quanto o Cristo Redentor, tornou-se um dos principais cartões postais da cidade. Agora imagine que você passeia por lá com seus amigos e encontra uma múmia. Bom, acredite ou não, esta é a inexplicável história da misteriosa Múmia de Gallotti.
Segunda-feira, dia 19 de setembro de 1949. Logo pelo início da manhã, em torno das 07h00, um grupo de cinco amigos (Antônio Marcos de Oliveira, Laércio Martins, Patrick White, Ricardo Menescal e Tadeusz Hollup) escalam o Pão de Açúcar. Todos os cinco amigos participavam do Clube Excursionista Carioca (CEC).
Há muito tempo o local tornou-se um ponto turístico. Por exemplo, desde o início do século XX o local possui o monte. A empresa que administra o bondinho do Pão de Açúcar já possui mais de cem anos de idade. As obras para o bondinho iniciaram-se em 1910.
No entanto, ainda há caminhos um pouco mais radicais no local. O grupo de amigos, então, subiria por uma dessas trilhas menos turísticas. A rota chama-se chaminé Gallotti, e foi construída durante um período de cinco anos naquela época.
Hoje, ainda é bastante difícil subir, mas na época tratava-se de uma subida ainda pior, já que eles utilizavam equipamentos muito menos rebuscados do que nos dias de hoje. Os aventureiros só conquistaram a chaminé da Gallotti em 1954, cinco anos depois.
“Durante anos, foi considerada a mais difícil escalada do montanhismo brasileiro”, conta à BBC Rodrigo Milone, presidente do ainda existente CEC.
Que susto!
Enquanto subiam o morro, inicialmente encontraram um sapato bastante deteriorado, em uma clareira da mata. “Será que, daqui a pouco, vamos encontrar a dona do sapato?”, brincou um dos amigos. Então, eles continuaram a subida, através de um paredão de rochas com equipamentos de escalada.
Em torno das 11h00, um vento bateu e Antônio Oliveira sentiu fios de cabelo pousando em seus ombros. Olhando para o lado, localizou no defunto em uma fenda no paredão. Os exploradores apelidaram aquela fenda de chaminé.
Quando viu o defunto, então, se assustou e chamou seus amigos. Conforme o grupo relata no documentário “A cinquentona Gallotti”, de 2004, eles não acreditaram na hora, e continuaram a brincar. “Achou a dona do sapato?”, disse Menescal. Ao subir, todos perceberam que era real.
Pelo susto e pela urgência, não valia mais a pena continuar a escalada. Então, eles foram até a polícia. No dia seguinte, voltaram para a chaminé com bombeiros, policiais, repórteres e legistas. Os amigos desceram a múmia, utilizando cordas, e a levaram para a clareira na mata, onde as autoridades aguardavam.
A Múmia de Gallotti
Os longos cabelos e o sapato feminino indicaram que fosse uma mulher. No entanto, as análises do legista José Seve Neto demonstraram que o corpo pertenceu a um homem de aproximadamente 35 anos de idade, não muito alto, com cerca de 1,60 metros de altura e incrivelmente não carregava documento algum – por isso hoje é apenas a Múmia de Gallotti.
O legista percebeu também que o indivíduo vestia suéter e uma regata de algodão, na ocasião da morte. Além disso, não possuía nenhuma fratura, facada, bala de armas de fogo – nada que indicasse uma ocultação de cadáver proveniente de um crime.
Ademais, o corpo não era antigo. Os legistas pensam que possuía cerca de seis meses. A maresia o mumificou, já que o Pão de Açúcar localiza-se próximo do oceano. O sal do ar ajudou a desidratar o seu corpo. Como resultado, o defunto não apodreceu, mas permaneceu realmente mumificado.
Até hoje não se sabe mais nada sobre. Há hipóteses de assassinato, suicídio. Pelos longos cabelos, alguns acreditam tratar-se de um andarilho ou uma travesti se escondendo de alguém (lembrando que na época travestis ou quaisquer pessoas que saíam o padrão heteronormativo viviam em um mundo paralelo, muitas vezes envolvendo-se em crimes e prostituição, por pura necessidade – e isso ocorre até hoje). Os exploradores pensam, ainda que possa se tratar de um aventureiro que ficou preso ao tentar escalar o paredão e não conseguiu sair.