Este animal monstruoso sobreviveu a uma extinção em massa

Mas era um clado "morto-vivo".

Mateus Marchetto
Imagem: J. Benoit

A subordem gorgonapsida foi um grupo de animais que viveram durante o Permiano e precederam os mamíferos na árvore evolutiva. Contudo, novos fósseis indicam que estes monstros do Permiano viveram por muito mais tempo do que imaginado.

Ao final do período Permiano (há 252 milhões de anos) a biodiversidade do planeta passou por uma super extinção. A extinção do Permiano-Triássico matou em torno de 90% das espécies do planeta. Até então, pesquisadores acreditavam que os gorgonopsida acabaram extintos nesse evento também.

No entanto, a análise de três fósseis de gorgonopsídeos da Bacia de Karoo, na África do Sul, mostra que esses animais viveram, ao menos até o Triássico (período posterior ao permiano).

A pesquisa apresentada na conferência anual da Society of Vertebrate Paleontology indica que os monstros do Permiano sobreviveram à extinção, mas ainda assim pagaram o preço pelo evento, como veremos à frente. O artigo, entretanto, ainda não foi publicado e passará pela revisão por pares.

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Ilustração de um gorgonopsida por Dmitry Bogdanov/ Wikipedia Commons

Ainda assim, ao menos um dos espécimes analisados pertence aos primeiros momentos do período Triássico, enquanto os outros dois estão na interface de tempo entre Permiano e Triássico.

Os autores da pesquisa, Julien Benoit e Christian Kammerer, acreditam que a versatilidade dos gorgonopsida pode ter contribuído para a sobrevivência. As últimas espécies viventes do grupo tinham tamanhos corporais semelhantes aos de raposas e podiam predar uma gama de outros animais.

Um clado “morto-vivo”

A expressão “clado morto-vivo” (dead clade walking) se refere a grupos de organismos fadados à extinção por eventos passados. Assim, apesar dos monstros do Permiano terem sobrevivido à extinção em massa, as linhagens do grupo enfraqueceram com o passar do tempo e acabaram extintas, de qualquer maneira, tardiamente.

Esse fenômeno, também chamado de débito de extinção, acontece por conta da mudança paulatina nos ecossistemas da espécie. Vale lembrar que extinções em massa são, geralmente, processos que levam alguns milhões de anos. Isso permite certo tempo para uma espécie se adaptar, mas toda a biodiversidade do planeta muda, o que afeta todos os organismos.

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Imagem: Christian Kammerer via LiveScience

Um grupo de herbívoros chamado Lystrosaurus teve um aumento significativo no início do Triássico, o que mostra que os versáteis gorgonopsida tinham certa abundância de possíveis presas. Todavia, isso não foi suficiente para que a linhagem debilitada pela extinção em massa sobrevivesse ao Triássico, ao que tudo indica.

Estes monstros do Permiano faziam parte da classe Synapsida, da qual muitos integrantes sobreviveram à extinção em massa. Não só a do Permiano, mas também à do Cretáceo, tanto que a classe deu origem aos mamíferos modernos.

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