Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Aix-Marselha, na França, apresentou um novo e misterioso vírus, batizado como Yaravírus, em homenagem a rainha das águas do folclore brasileiro, em um artigo de pré-impressão na BioRxiv.
Descoberto em 2017, na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, o Yaravirus brasiliensis é diferente de qualquer outro vírus já descoberto. Este organismo é tão pequeno que pode infectar amebas. Mas o que chama mais atenção nele é o fato de que cerca de 90% de seu genoma e proteínas nunca foram descritos anteriormente. Somente seis genes encontrados apresentavam uma semelhança distante com genes virais conhecidos, documentados em bancos de dados científicos públicos. Além disso, o Yaravírus possui genomas mais complexos, o que lhe dá a capacidade de sintetizar proteínas e, portanto, fazer reparos em seu DNA.
“Este vírus apresenta cerca de 90% do genoma e proteínas nunca antes vistos na história da ciência. Isto significa que novas funções biológicas e metabólicas estão prestes a serem descritas. Isso pode trazer inúmeros benefícios à ciência e aos seres humanos”, disse Jônatas Abrahão, virologista do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais e coautor do estudo, à SoCientífica por e-mail.
Segundo Jônatas o principal objetivo do estudo é descobrir novos vírus que podem ajudar a compreender como a evolução aconteceu em nosso planeta. O pesquisador conta que a descoberta do Yaravírus, assim como a de outras formas de vida, revela novas possibilidades que, consequentemente, podem resultar em soluções para inúmeros problemas da humanidade.
“Podemos descobrir novas vias bioquímicas e como interferir em vias metabólicas atualmente conhecidas, buscando soluções para problemas diversos. Além disso, a descoberta de uma entidade tão distinta nos leva a entender o quanto precisamos investir na ciência e tecnologia, para entendermos o mundo que vivemos”, disse ele.
A descoberta de Jônatas e seus colegas mostra quão pouco sabemos sobre o universo microscópico que nos rodeia.
Agora os pesquisadores partem para o próximo passo, que é buscar apoio da iniciativa pública e privada para explorar o potencial biotecnológico e metabólico deste vírus misterioso.
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Publicação original SoCientífica.