Enquanto muitas pessoas escolhem comprar um carro elétrico por conta das questões ambientais — sobretudo a ausência de emissões de dióxido de carbono (CO2) e poluentes no escapamento — o setor de mineração tem vasculhado o fundo do oceano em busca de minerais preciosos usados na fabricação das baterias automotivas.
Essa busca massiva se deve, em grande parte, à alta demanda do mercado por tais minerais. Agora, o fundo dos oceanos também tem sido explorado por grandes empresas.
Busca por minerais usados em baterias de carros elétricos é feita no oceano
Pesquisas por minerais valiosos utilizados em baterias de carros elétricos chegou ao fundo dos oceanos. De acordo com dados publicados pela The Metals Company, a empresa coletou 14 toneladas de rochas metálicas em uma operação de apenas 60 minutos em uma única seção de 150 metros do fundo do mar do Oceano Pacífico, localizada aproximadamente na área entre o Havaí e o México.
Ainda nesse ano (julho), a Metals Company contratou a principal agência de ciência governamental independente da Austrália, a CSIRO, para liderar um consórcio de pesquisa acadêmica para ajudar a empresa na formulação e desenvolvimento de um plano de gerenciamento na coleta de nódulos polimetálicos. Além da CSIRO, especialistas de Museums Victoria, Griffith University, University of the Sunshine Coast e do Instituto Nacional de Água e Pesquisa Atmosférica da Nova Zelândia contribuirão para a pesquisa.
Nesse contexto, além das já conhecidas BMW, Tesla, Ford e Toyota, grandes controladoras de marcas automobilísticas, como a Alfa Romeo, Citroen, Fiat, Jeep, Maserati, Peugeot, apoiam as mineradoras australianas.
Rochas polimetálicas
Conhecidas como nódulos, as rochas polimetálicas — que variam de tamanho, mas não passam das medidas de uma bola de críquete — apresentam uma mistura de materiais largamente utilizados na produção de baterias dos carros elétricos, como sulfato de níquel, sulfato de cobalto, cobre e manganês.
Em 2020, A Automotive News citou um relatório da revista científica Nature no qual se estima que há 274 milhões de toneladas de reservas de níquel em uma área de 4,4 milhões de quilômetros quadrados no oceano conhecida como Zona Clarion-Clipperton. As reservas de cobalto são ainda mais expressivas, uma vez que há quase 500% a mais do que as reservas encontradas em terra.
Degradação dos habitats
Embora se mostre altamente lucrativa e promissora, com uma ampla demanda, a mineração tende a destruir os habitats no fundo dos oceanos, é o que afirmam fortes opositores de tais atividades, como o Greenpeace e o World Wildlife Fund (WWF).
Segundo um estudo publicado na revista Science, “A mineração não apenas dragará o fundo do mar, mas também criará muito ruído que representa seus próprios problemas para a vida marinha”, como explica o The Verge. As operações podem afetar a vida marinha num raio de até 500 km.
Arlo Hemphill, assessor político do Greenpeace, disse em um comunicado que “Considerando os riscos que enfrentamos com as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e as perturbações econômicas e sociais, não devemos proceder como se fôssemos lemingues à beira de um penhasco, prontos para lançar outra indústria destrutiva nos oceanos já estressados – uma pedra angular da vida na Terra”.
Frauke Eßer, chefe de risco global de fornecedores e gestão de sustentabilidade do Volkswagen Group Purchasing em 2021, disse que “A mineração no fundo do mar apresenta sérios riscos ambientais que levamos muito a sério e isso nos leva a apoiar o pedido de uma moratória” – a moratória do WWF foi assinada também pelas empresas BMW Group, Volvo, Renault e Rivian.
Contudo, a empresa canadense Impossible Metals considera a intenção do Greenpeace equivocada, uma vez que suas técnicas de mineração não são destrutivas. Renee Grogan, cofundadora e diretora de sustentabilidade da empresa, afirma que “Acreditamos que é imprudente e irresponsável propor a proibição da mineração no fundo do mar, sem ter um roteiro alternativo confiável para a obtenção desses metais. O status quo da mineração terrestre se torna mais arriscado e mais prejudicial ambiental e socialmente a cada dia. Ainda não temos acesso ao volume de minerais críticos necessários para a reciclagem.”