Manchas escuras misteriosas em Netuno são vistas pela primeira vez da Terra

Elisson Amboni
Imagem: iStock

Desde a passagem histórica da Voyager 2 por Netuno em 1989, as enigmáticas manchas escuras do planeta distante têm provocado uma série de perguntas. No entanto, recentes observações feitas a partir da Terra renderam detalhes extraordinários desse fenômeno, fornecendo informações valiosas sobre sua composição e comportamento.

“Sempre me perguntei o que são essas características escuras fugazes e elusivas”, revela o astrônomo Patrick Irwin, da Universidade de Oxford. Sua empolgação é evidente ao acrescentar: “Estou absolutamente emocionado por ter conseguido não apenas detectar pela primeira vez uma mancha escura a partir do solo, mas também registrar pela primeira vez um espectro de reflexão de tal característica”.

Essas manchas escuras são essencialmente tempestades anticiclônicas – semelhantes à grande mancha vermelha de Júpiter, mas possuem qualidades distintas. Ao contrário de seus equivalentes em outros planetas, as manchas de Netuno surgem e desaparecem em poucos anos.

Uma nova ferramenta para exploração

Acredita-se que os vórtices de Netuno tenham menos nuvens em seus centros em comparação com os vórtices tempestuosos de Saturno e Júpiter. As nuvens detectáveis são brancas e fofas, provavelmente formadas quando gases congelam em cristais de gelo de metano em altitudes mais elevadas. No entanto, compreender esses fenômenos tem sido um desafio devido à distância de Netuno e à natureza transitória dos vórtices.

O Telescópio Espacial Hubble, desde 1994, era o único meio de observar esses vórtices. No entanto, quando um vórtice tempestuoso significativo foi avistado em 2018, a equipe de Irwin entrou em ação com uma nova ferramenta: o Multi Unit Spectroscopic Explorer do Very Large Telescope (MUSE).

Revelando os segredos de Netuno

O MUSE detectou a luz solar refletida por Netuno e a dividiu em diferentes comprimentos de onda para construir um espectro 3D do planeta. Os diferentes comprimentos de onda correspondiam a diferentes altitudes na atmosfera de Netuno, permitindo à equipe determinar a altitude da mancha escura.

Os resultados foram inesperados – a mancha escura não era um “buraco” real na atmosfera de Netuno. Em vez disso, a cor mais escura parecia ser resultado do escurecimento de partículas na camada de sulfeto de hidrogênio abaixo da atmosfera de Netuno. Os pesquisadores, em um artigo na Nature Astronomy, suspeitam que isso possa ser causado pelo aquecimento localizado em um vórtice anticiclônico que vaporiza o gelo de sulfeto de hidrogênio, revelando um núcleo mais escuro.

Além dessa descoberta surpreendente, eles também observaram uma nuvem brilhante única na mesma altitude que o vórtice escuro – um tipo de nuvem nunca antes visto.

Embora sejam necessárias mais investigações para validação, essas observações feitas a partir do solo nos aproximaram significativamente de desvendar os enigmas de Netuno. “Isso representa um aumento surpreendente na capacidade da humanidade de observar o cosmos”, afirma Michael Wong, da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Compartilhar