Arqueólogos descobriram, na Baviera, três recipientes de cerâmica que, segundo evidências de resíduos de leite animal e formato do material, indicam que serviram como mamadeiras para crianças em fase de desmame há 3.000 anos.
O artigo, em que os arqueólogos descrevem a fascinante descoberta, foi publicado na prestigiada revista científica Nature, na quarta-feira.
Os cientistas fizeram as escavações na Baviera, onde investigaram sepulturas de crianças que datavam da Idade do Ferro, entre 450 e 800 AEC, e da Idade do Bronze, entre 800 e 1200 AEC.
Antes de chegarem à conclusão, cientistas já haviam encontrado, no passado, pequenos vasos de argila com pés ou com formato de animais. Os pesquisadores acreditavam que poderiam ser mamadeiras antigas ou itens que serviam para alimentar os mais debilitados. Agora, contudo, uma análise mais completa foi realizada.
Com largura entre 2 e 4 polegadas e bicos muito estreitos, a cerâmica foi encontrada em sepulturas de crianças entre recém nascidas e até 6 anos de idade.
Devido à espessura dos bicos de materiais anteriores, era difícil fazer uma análise própria, mas esses últimos recipientes encontrados apresentavam tigelas abertas, o que permitiu a análise química e isotópica.
O resíduo continha ácidos graxos palmíticos e esteáricos associados à gordura animal, bem como ácidos graxos de cadeia curta que raramente são detectados em cerâmica antiga, segundo o estudo. Estes ácidos são geralmente associados à gordura fresca do leite.
A análise isotópica também revelou que o leite materno era provavelmente misturado com leite animal domesticado, como gado, cabra ou ovelha.
“Estes itens muito pequenos, evocativos, nos dão informações valiosas sobre como e que bebês foram alimentados milhares de anos atrás, fornecendo uma conexão real para mães e bebês no passado”, disse Julie Dunne, autora principal do estudo na Escola de Química da Universidade de Bristol, à CNN.
“Os itens similares, embora raros, aparecem em outras culturas pré-históricas (tais como Roma e Grécia antiga) através do mundo. Idealmente, nós gostaríamos de realizar um estudo geográfico maior e investigar se serviram à mesma finalidade.”
A descoberta traz novos olhares sobre como as primeiras sociedades cuidavam de suas crianças.
Pesquisas anteriores sugeriram que bebês em comunidades de caçadores-coletores eram amamentadas durante anos, de acordo com o estudo. Mas o aumento da agricultura, especificamente a domesticação de animais leiteiros, encurtou esse período, introduzindo a disponibilidade de leite animal e até mesmo de grãos de cereais.