Mais de 26 milhões de inferências humanas em buscas por sinais de uma civilização inteligente

Felipe Miranda
(SETI).

Não há humanos em outro planeta nem nada assim – eram assinaturas da Terra. Não conhecemos nenhuma civilização inteligente pelo universo, mas sabemos que pelo menos uma existe: a nossa. Portanto, a melhor forma de se buscar por sinais de uma civilização inteligente é, primeiro, ver como localizaríamos a nossa, a partir dos sinais que nós mesmos emitimos.

Por exemplo, se uma civilização inteligente localiza-se a 84 anos luz de distância, está vendo agora um discurso de Hitler na primeira olimpíada televisionada da história – os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, sediados em Berlim. Isso se os frágeis sinais chegaram até lá. Bom, talvez um discurso de Hitler tenha amedrontado nossos companheiros inteligentes.

Buscando por sinais de uma civilização inteligente

Chamamos os sinais de vida inteligente de tecnoassinaturas – assinaturas de tecnologias. São nesses sinais que o SETI, principal projeto de “caça aos aliens” do mundo, foca. Eles focam principalmente nas ondas de rádio, pois embora carreguem pouca informação viajam muito longe por motivos que já abordamos em um texto disponível neste link.

“Uma das grandes vantagens da busca por tecnoassinaturas em comprimentos de onda de rádio é que somos sensíveis aos sinais emitidos a milhares de anos-luz de distância e não consome tanta energia”, disse o astrônomo Jean-Luc Margot ao Science Alert. Basicamente, ele diz que as ondas de frequências maiores viajam menos, então você precisa lançar muitas delas para chegar longe. Já o rádio, a frequência mais baixa de ondas eletromagnéticas, viaja longas distâncias facilmente.

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Byrd Green Bank Telescope, um dos radiotelescópios utilizados pelo SETI. (NRAO).

“Por exemplo, nossa pesquisa pode detectar o Radar Planetário de Arecibo a distâncias de mais de 400 anos-luz. E detectaria um transmissor apenas 1.000 vezes mais poderoso do que Arecibo – uma melhoria trivial para uma civilização avançada – até o centro da galáxia. O volume da galáxia que pode ser amostrado com uma busca de rádio por tecnoassinaturas é imenso”, explica Margot.

Os cientistas olharam para 31 estrelas semelhantes ao Sol nas proximidades. Com isso, eles detectaram 26,6 milhões de tecnoassinaturas candidatas. No entanto, quando eles olharam para os dados, eram assinaturas da Terra mesmo. Claro que eles não esperavam por um milagre, mas quem não procura não encontra nada, não é mesmo?

Ainda é útil

No entanto, isso não é uma causa perdida. Com os métodos que eles utilizaram para encontrar os sinais alienígenas, eles filtraram os sinais do espaço e, mais tarde, os próprios sinais humanos. Ou seja, os algoritmos deles filtrarão sinais realmente de outras estrelas e, se há algum sinal inteligente por lá, possivelmente os identificaríamos. 

Saber filtrar as Interferência de rádio frequência (RFI, na sigla em inglês), é importante porque elas são muito chatas, e nos atrapalham a todo momento. As RFI representam quaisquer sinais indesejados emitidos por aparelhos, intencionalmente ou de forma colateral, como sinais de celulares, satélites, rádio, TV etc. 

Em uma primeira filtragem, eles classificaram quase tudo como antropogênico, restando apenas 43020 sinais. Após mais uma filtragem, restaram 4539 possíveis sinais de vida inteligente. Destes últimos, eles filtraram cuidadosamente, inspecionando-os um a um. No entanto, descartaram a todos. 

“Se um sinal for detectado em várias direções no céu, podemos ficar extremamente confiantes de que é antropogênico. Detectaríamos um sinal extraterrestre emitido em distâncias interestelares em apenas uma direção”, explica Margot ao Science Alert.

Além disso, há outra utilidade para esse trabalho. Margot leciona na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Em uma das disciplinas, ele utiliza os dados para treinar os alunos na filtragem. Isso não só possui aplicabilidades para a busca por civilizações inteligentes, mas na própria filtragem de sinais coletados para outros tipos análises científicas úteis na astronomia, cosmologia e astrofísica.

O estudo será publicado no The Astronomical Journal e já está disponível como preprint no arXiv. Com informações de Science Alert.

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