Lobo siberiano de 44.000 anos pode hospedar vírus pré-históricos

Daniela Marinho
Lobo siberiano antigo. Imagem: Universidade Federal do Nordeste, em Yakutsk, Rússia

Em 2021, moradores da região de Yakutia, no leste da Rússia, fizeram uma descoberta impressionante: um lobo preservado em um espesso permafrost. O permafrost é um tipo de solo que normalmente permanece congelado durante o ano inteiro. No entanto, devido ao aumento das temperaturas médias globais, esse solo começou a descongelar em muitos lugares, revelando segredos há muito escondidos.

Atualmente, pesquisadores da Universidade Federal do Nordeste, localizada em Yakutsk, Rússia, estão dedicados ao estudo dos restos mumificados desse lobo. O objetivo é desvendar mais informações sobre esse animal pré-histórico e seu ambiente.

Graças às condições do permafrost, o lobo foi mumificado e preservado de forma quase perfeita. Seus dentes e uma grande parte de seu pelo ainda estão intactos, oferecendo uma visão rara e detalhada de como era esse predador do período Pleistoceno.

Além disso, alguns de seus órgãos internos também foram preservados, proporcionando a oportunidade para os cientistas estudarem sua biologia e condições de vida.

Espécie extinta

Robert Losey, antropólogo da Universidade de Alberta disse que “É o único lobo adulto completo do Pleistoceno já encontrado, o que por si só é realmente notável e completamente único.”

Desse modo, há muito a ser aprendido com um animal antigo tão bem preservado. A análise de sua genética permitirá compreender melhor suas características hereditárias e como ele se relaciona com outras espécies.

Outro aspecto fascinante é a possibilidade de descobrir que tipos de bactérias e vírus antigos ele abrigava. Essas informações podem fornecer informações sobre as doenças que existiam há milhares de anos e como os organismos interagiam naquela época.

De acordo com o pesquisador Losey, este lobo, que viveu há 44.000 anos, provavelmente pertence a uma espécie extinta e era maior do que os lobos modernos.

Desenvolvimento de novos medicamentos

Após uma análise detalhada de um dos dentes do lobo, os cientistas determinaram que ele era um macho adulto. Esse lobo provavelmente habitava e caçava em um ambiente plano e gelado, repleto de criaturas como mamutes, rinocerontes-lanosos, cavalos extintos, bisões e renas. É possível que restos desses animais ainda estejam em seu intestino.

Para explorar essa possibilidade, os pesquisadores coletaram amostras do estômago e do trato digestivo do lobo e estão aguardando os resultados dessas análises.

Ademais, os cientistas estão interessados em investigar os micróbios antigos presentes no intestino do lobo para entender suas funções e verificar se ele tinha parasitas. Segundo Losey, a descoberta de microrganismos desconhecidos pela ciência pode ser crucial para o desenvolvimento de novos medicamentos no futuro.

Essa descoberta é parte de um esforço colaborativo maior para estudar outros animais antigos, incluindo lebres fósseis, um cavalo e um urso. Os pesquisadores já examinaram uma cabeça de lobo do período Pleistoceno e têm outro fóssil de lobo que será dissecado em breve.

Animais antigos e agentes infecciosos

Com o derretimento do permafrost devido ao aumento das temperaturas globais, mais criaturas antigas como essa estão ressurgindo. No Yukon, por exemplo, os paleontólogos estão maravilhados com a descoberta de um bebê mamute impecavelmente preservado em 2022.

Contudo, nem tudo encontrado no permafrost é inofensivo. Em 2016, o degelo na Península de Yamal, na Sibéria, liberou esporos de antraz de uma carcaça de rena congelada, resultando em um surto que infectou 36 pessoas e causou a morte de uma criança.

Os pesquisadores estão preocupados com a possibilidade de outros patógenos adormecidos serem liberados à medida que o permafrost continua a descongelar. Essas doenças antigas, que estão presas no gelo há milênios, podem representar um risco significativo à medida que o clima global aquece.

No ano passado, o pesquisador Jean-Michel Claverie anunciou que havia conseguido reviver um vírus de 48.000 anos encontrado no permafrost siberiano. Esse vírus ainda era capaz de infectar amebas unicelulares, demonstrando que alguns patógenos antigos podem permanecer viáveis por períodos extremamente longos.

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