Limite de aquecimento global de 1,5°C é excedido pela primeira vez

Daniela Marinho
O colapso das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental pode levar a aumentos significativos do nível do mar ao longo de séculos, causando impactos catastróficos. Imagem: Canva

Em 2015, líderes mundiais entraram em consenso sobre a influência humana nas questões climáticas do planeta e estabeleceram o limite de aquecimento de 1,5°C pelo Acordo de Paris, um acordo internacional adotado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21).

O objetivo principal do acordo é limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais, buscando esforços para limitar o aumento a 1,5°C. O acordo foi ratificado por muitos países ao redor do mundo, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ajudar a evitar os impactos mais danosos.

No entanto, pela primeira vez, o limite de aquecimento de 1,5°C durante um ano foi excedido. Embora esse fato não quebre o acordo, pode gerar resultados ruins a longo prazo. Mas, segundo os cientistas, ainda é possível fazer alguma coisa a respeito.

O mundo está em seu período mais quente

Segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da UE, o período de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024 atingiu 1,52°C, violando o limite de aquecimento. A temperatura média da superfície do mar em todo o mundo também alcançou o seu nível mais alto já registrado, destacando ainda mais a tendência generalizada dos padrões climáticos.

Ainda que existam discordâncias entre os cientistas climáticos sobre o quanto exatamente a temperatura global aumentou, é unânime que o mundo encontra-se em seu período mais quente desde os primeiros registros modernos.

Desse modo, limitar o aumento da temperatura a longo prazo a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais – antes do início da intensa queima de combustíveis fósseis por parte dos seres humanos – tornou-se um símbolo central dos esforços internacionais para combater as mudanças climáticas.

Um relatório histórico da ONU em 2018 afirmou que os riscos das alterações no clima, como ondas de calor extremas, aumento do nível do mar e extinção de espécies selvagens, eram significativamente maiores a 2°C de aquecimento do que a 1,5°C.

A queima de combustíveis fósseis e o El Niño

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Chile teve incêndios florestais em várias regiões em fevereiro. Imagem: Divulgação / AFP / BBC News

O aumento da temperatura ao longo dos anos é principalmente causado pelas ações humanas, especialmente pela queima de combustíveis fósseis, que libera gases que retêm o calor na atmosfera, como o dióxido de carbono. Isso é responsável pela maior parte do calor registrado no último ano.

Além disso, nos últimos meses, o El Niño também contribuiu para o aumento da temperatura do ar, embora normalmente ele aumente apenas cerca de 0,2°C.

A média global da temperatura do ar começou a ultrapassar 1,5°C de aquecimento quase todos os dias no segundo semestre de 2023, quando o El Niño começou a ter efeito, e essa tendência continuou em 2024.

Acredita-se que as condições do El Niño terminem nos próximos meses, o que pode levar as temperaturas globais a se estabilizarem temporariamente e depois a diminuírem um pouco, possivelmente retornando abaixo do limite de 1,5°C.

Contudo, devido ao contínuo aumento dos níveis de gases de efeito estufa na atmosfera causado pelas atividades humanas, é provável que as temperaturas continuem a subir pelos próximos anos.

Limitar o aquecimento global pode ser possível

Zeke Hausfather, cientista climático do grupo norte-americano Berkeley Earth, pontua que “[…] podemos, em última análise, controlar o nível de aquecimento que o mundo experimenta, com base nas nossas escolhas como sociedade e como planeta. A desgraça não é inevitável.”

Posto que o limite de aquecimento de 1,5ºC em um ano foi violado, o mundo registra progressos significativos e potenciais, como energias renováveis, tecnologia verde e carros elétricos.

Assim sendo, alguns dos cenários mais alarmantes de um aquecimento de 4°C ou mais neste século, que eram considerados possíveis há uma década, agora são vistos como menos prováveis devido às políticas atuais.

Há ainda, certo otimismo em relação à possibilidade de que o aquecimento global possa estabilizar quando as emissões líquidas de carbono atingirem zero.

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