Quem era o “Índio do Buraco”, o último membro de uma etnia agora extinta

Felipe Miranda

Por 26 anos, a Funai acompanhou o “índio do buraco” vivendo na floresta, mais especificamente na Terra Indígena Tanaru, no estado de Rondônia. Último membro de uma etnia indígena desconhecida, o homem vivia sozinho voluntariamente, e era hostil com tentativas de aproximação, deixando armadilhas ou lançando flechas para se proteger. A sua etnia foi massacrada entre os anos 1980 e 1990, então obviamente ele tem motivos para a hostilidade a nós.

No último dia 27, a Funai (Fundação Nacional do Índio), publicou uma nota de pesar sobre o Índio Tanaru.

“A Fundação Nacional do Índio (Funai) informa, com imenso pesar, o falecimento do indígena conhecido como “Índio Tanaru” ou “Índio do buraco”, que vivia em isolamento voluntário e era monitorado e protegido pela Funai por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé, no estado de Rondônia, há cerca de 26 anos”, diz a nota do órgão federal.

Conforme a nota, ele foi encontrado morto na sua rede de dormir, na palhoça que ele utilizava como abrigo. Patrulheiros da Funai localizaram o corpo durante uma ronda pela área. Não havia sinais de violência nem de luta no local, nem marcações pela mata ou outras pessoas no local.

Mas ainda não há conclusões sobra sua morte. Peritos criminalistas de Brasília, junto com peritos locais, analisaram o local com drones, escâner 3D e coletaram, ainda, vestígios do corpo do “indío do buraco”. Ao que tudo indica, sua morte ocorreu por causas naturais, mas ainda há o aguardo do laudo médico legista da Polícia Federal.

O “índio do buraco”

O “índio do buraco” levou esse nome pois todas suas palhoças possuíam um buraco no interior para lhe servir de esconderijo. Além disso, ele criava muitas armadilhas para impedir que estranhos de aproximassem se seu esconderijo.

Conforme entrevista do jornal britânico The Guardian com um dos exploradores da Funai que monitoravam o indígena, ele e outros funcionários do órgão acreditam que fazendeiros ilegais deram açúcar a eles. Após o consumo deste, e de ganhar confiança, então, deram mais açúcar, mas desta vez com veneno de rato, exterminando os membros da tribo.

Em 1995, a Funai estimava o seu grupo em seis pessoas. Então, o remanescente do grupo foi dizimado por um ataque de madeireiros, e desde 1996, o “Índio do Buraco” vive sozinho pela mata.

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Imagem: Funai / Reprodução.

Em 1997, foi estabelecida, pela primeira vez, a Terra Indígena de Tanaru, para a proteção do indígena remanescente. Após isso, a TI era renovada sob ordem judicial sucessivamente até se tornar uma portaria, em 2015, mantendo, por mais 10 anos, a interdição da área como Terra Indígena.  

A Funai tentou contato com ele, mas sem sucesso. Patrulheiros do órgão tentaram deixar a ele presentes, como sementes e ferramentas, mas todos foram negados. Mas ele possuía razão para tamanha desconfiança.

“Eu o vi primeiro. Ele não me viu, estava pegando uma fruta no chão. Fiquei quieto. A hora que ele me viu, estava a uns 5 metros na minha frente. O que fazer? Fiquei quieto e ele me observando, achei que ia perguntar o que eu estava fazendo. Aí tive a iniciativa e o chamei. Mas foi o sinal para ele ir embora. Virou as costas, deu uma voltinha, pegou o facão e foi”, disse à globo em 2010 o indigenista Altair Algayer sobre um contato seu com o “índio do buraco”.

“Em outras vezes, ele também te olha e já pega o caminho da casa, que é onde se sente protegido. A primeira coisa que faz lá dentro é pegar todas as flechas”, disse Algayer.

Segundo o movimento de proteção indígena Survival International, o “território Tanaru se destaca como uma pequena ilha de floresta em um mar de vastas fazendas de gado”.

Esse é apenas mais um caso de genocídios que ocorrem com os povos indígenas – não só nos tempos antigos, mas ainda nos dias de hoje. Isso tudo para criar fazendas e mais fazendas de gado, minerações ilegais e extração ilegal de madeira.

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