Impacto do descongelamento do permafrost no Ártico será devastador, alertam cientistas

Lorena Franqueto
Imagem: Pixabay

A dinâmica natural do inverno e do verão impacta na quantidade de gelo na região do Ártico. Com isso, acontecem breves recuos ou aumentos de algumas regiões do permafrost. No entanto, o crescimento do aquecimento global gerou mudanças permanentes nessa trajetória usual. Houve uma redução drástica nas regiões de gelo, de forma que o Oceano Ártico pode ficar sem gelo em 2050, segundo recentes estimativas.

De 2007 a 2016, alguns estudos demonstram um aquecimento de 0,4ºC em média nesse tipo de solo. Por consequência, essa maior temperatura provoca o descongelamento, isto é, o derretimento do gelo da região. Algo até então inconcebível, já que o permafrost mantém essas coberturas de gelo há milhares de anos.

Uma cientista e autora de artigo sobre o tema, Kimberly Miner, comentou sobre a elevação na temperatura: “levantando preocupações sobre a rápida taxa de degelo e a possível liberação de carbono antigo”.

Além do aumento da temperatura, alguns incêndios florestais também comprometem o permafrost. O que acontece na região chama-se “incêndios zumbis“, porque as chamas ardem até mesmo no inverno!

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Incêndios florestais no norte da Rússia no início de maio de 2021. Imagem: National Geographic Brasil

Os impacto do descongelamento do permafrost

A princípio, segundo artigo da Nature, o permafrost acumula quase 2 bilhões de toneladas de carbono orgânico. Acredita-se que esse valor corresponde ao dobro de carbono atualmente na atmosfera e o triplo da quantidade emitida em 1850 (início da Revolução Industrial).

A medida que o gelo descongela, parte dele é também liberado na atmosfera em forma de gases, por efeito da decomposição realizada pelos micróbios do solo. Nesse sentido, outra pesquisa da Nature revelou que o metano e o CO2 liberados do permafrost, dificultarão também a luta contra o aquecimento global.

Ou seja, ao mesmo tempo que o aquecimento global descongela o permafrost e libera o carbono, também se elevam as quantidades de gases do efeito estufa que, novamente, prejudicam o controle da temperatura da Terra. É um ciclo vicioso assustador!

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Imagem: FlorenceD-pix/Pixabay

Em algumas cidades da Rússia, quase 80% dos edifícios estão em cima desse tipo de solo. De acordo com Jan Hjort, autor de outro artigo sobre o tema, só no hemisfério norte aproximadamente 120.00 edifícios estão em cima do permafrost.

Por isso, há grandes riscos para a infraestrutura já existentes nessas localidades, bem como para as futuras. O estudo de Hjort explicou: “A força do solo cai substancialmente à medida que as temperaturas sobem acima do ponto de fusão e o gelo do solo derrete”.

Em 2020, por exemplo, o descongelamento do permafrost foi responsável por dois suportes no solo afundarem e romperem um tanque de combustível na Sibéria. Estima-se que 21 mil toneladas de diesel pararam em rios próximos devido ao desastre.

Quais as conclusões?

Infelizmente, muitas questões e dúvidas permanecem, mesmo com os muitos estudos sobre o permafrost. A quantidade de carbono liberado a partir desse solo ainda é desconhecida no meio científico.

Conforme Miner, poucas vezes o descongelamento é considerado nas pesquisas sobre mudanças climáticas, portanto, ainda não sabemos o real impacto no aquecimento global. Sendo assim, apenas um monitoramento mais detalhado, com observações locais, aéreas e por satélite fornecerão dados sobre o papel do Ártico nas quantidades de carbono e o impacto desde no sistema terrestre.

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