Imagens mostram recifes de corais mais remotos afetados pelo lixo humano

Elisson Amboni
Imagem: Leo Francini

A poluição plástica representa uma séria ameaça aos recifes de corais e à vida selvagem nos oceanos. Uma pesquisa liderada pelo biólogo marinho Hudson Pinheiro, da Universidade de São Paulo (USP), revelou que resíduos como redes de pesca e embalagens estão colocando em risco a biodiversidade dos ecossistemas recifais mais profundos do mundo.

A pesquisa, publicada na revista Nature, abrangeu 84 ecossistemas de corais em 25 localidades, nos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Surpreendentemente, quase todos os recifes amostrados apresentavam resíduos plásticos provenientes das atividades humanas. Esses resíduos representam impressionantes 88% de todo o lixo gerado pelas pessoas nos recifes, seja em águas rasas ou profundas.

Uma descoberta preocupante foi a presença de equipamentos de pesca descartados – incluindo redes e linhas – entre os principais tipos de resíduos encontrados. Em alguns casos, as equipes científicas encontraram evidências alarmantes da chamada “pesca fantasma”, na qual essas redes abandonadas continuam capturando e matando peixes nos recifes.

Impacto crescente nos recifes profundos

Embora se esperasse que os recifes mais remotos estivessem praticamente intocados pela poluição plástica, a realidade é diferente. Dos 84 ecossistemas pesquisados, 77 continham macroplásticos, ou seja, pedaços de plástico com cinco centímetros ou mais. Esses resíduos não apenas prejudicam a estética dos recifes, mas também afetam a vida marinha que depende desse ecossistema.

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Lixo encontrado em recife a 100 metros de profundidade no Pacífico. Imagem: Luiz A. Rocha, California Academy of Sciences

Os recifes profundos são conhecidos por abrigar uma grande diversidade de espécies de peixes. Entretanto, nesses locais a quantidade de macroplásticos é ainda maior do que nos recifes rasos. Essa disparidade pode ser explicada por alguns fatores. Por um lado, os recifes rasos estão mais expostos às ondas fortes, o que leva ao transporte e acumulação do plástico nas profundezas. Além disso, as iniciativas de limpeza geralmente concentram-se em áreas superficiais.

A presença desses resíduos plásticos tem consequências negativas para a vida marinha e para os próprios recifes. Quando cordas e redes ficam presas aos corais, podem causar danos físicos significativos. Além disso, esses fragmentos de plástico acabam agregando bactérias e outros microorganismos que podem causar doenças e prejudicar a saúde dos corais.

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Linha de pesca em recife de coral no Cabo Verde. Imagem: Luiz A. Rocha, California Academy of Sciences

Uma chamada à ação global

Diante dessa grave ameaça aos ecossistemas recifais mais profundos do nosso planeta, é urgente buscar soluções efetivas para combater a poluição plástica. As negociações em andamento para um tratado global das Nações Unidas contra esse tipo de poluição oferecem uma oportunidade única para abordar essa questão.

Para enfrentar esse desafio, é necessário adotar medidas que vão além da simples substituição de sacolas plásticas por alternativas de papel. É preciso considerar a realidade das comunidades pesqueiras que dependem da pesca para sustento. Para isso, é fundamental discutir a implementação de subsídios e outros incentivos que ajudem os pescadores a reduzir o uso de plástico em suas atividades.

Além disso, investir no desenvolvimento de materiais biodegradáveis pode ser uma estratégia promissora para diminuir a contaminação dos recifes de corais mais profundos. Essa abordagem envolve um esforço conjunto entre governos, indústrias e sociedade civil para encontrar alternativas sustentáveis aos materiais plásticos convencionais.

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