Imagens melhores de buracos negros estão chegando, talvez até filmes em alta definição

Daniela Marinho
Imagem: Canva

Entre os inúmeros e variados objetos astronômicos, os buracos negros são, certamente, um dos que causam mais fascínio. Embora os cientistas já tenham desvendado muitos dos seus mistérios, o assunto está longe de ser esgotado. Com distâncias, literalmente, astronômicas, a estrutura dos buracos negros ainda não é um tema de domínio popular, existe mais do imaginário do que do real.

No entanto, isto pode mudar muito em breve, visto que imagens melhores de buracos negros estão chegando, podendo até viabilizar filmes coloridos e com alta definição.

Projeto Event Horizon Telescope (EHT)

A maioria das pessoas conheceu o projeto Event Horizon Telescope (EHT) em 2019, quando foi divulgada a primeira imagem de um buraco negro, o M87*, localizado no centro da galáxia Messier 87.

Porém, o EHT já estava em operação desde 2009, e seus 15 anos de atividade foram dedicados ao aperfeiçoamento constante da técnica de interferometria de linha de base muito longa (VLBI), que possibilitou a captura dessas imagens.

Até agora, o foco foi explorar ao máximo as capacidades já existentes do EHT. Contudo, um artigo recente, publicado no The Astronomical Journal, revela que uma grande atualização está prestes a acontecer.

O artigo descreve testes bem-sucedidos de observações com luz em uma frequência de 345 GHz, um avanço significativo em relação aos 230 GHz utilizados atualmente pelo EHT. Essa melhoria marca a primeira grande evolução em décadas na capacidade do VLBI de captar luz em alta frequência, o que será fundamental para aprimorar a qualidade das próximas imagens capturadas pelo EHT.

Detalhes significativamente maiores

A capacidade de capturar imagens em 345 GHz permitirá ao EHT fotografar objetos distantes, como o M87*, com muito mais detalhes. Isso também possibilitará a criação de imagens compostas por várias cores e, futuramente, quando as atualizações planejadas forem concluídas, a produção de filmes desses objetos.

O artigo é acompanhado por simulações que mostram como essas imagens coloridas podem ficar. Shepherd Doeleman, autor principal do estudo e diretor fundador do projeto EHT, comparou esse avanço a um dos marcos importantes na jornada para a lua.

Em entrevista à Popular Science, ele disse: “É como a Apollo 8, a missão que levou Frank Borman, James Lovell e William Anders a orbitar a lua e nos deu a famosa imagem da Terra vista do espaço. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas estamos quase lá.”

“Um telescópio do tamanho da Terra”

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Esta imagem simulada composta mostra como M87* é visto pelo Event Horizon Telescope em 86 GHz (vermelho), 230 GHz (verde) e 345 GHz (azul). Quanto maior a frequência, mais nítida a imagem se torna, revelando estrutura, tamanho e forma que antes eram menos discerníveis. Imagem: EHT, D. Pesce, A. Chael

O VLBI, ou Interferometria de Linha de Base Muito Longa, funciona através de uma rede global de telescópios, todos apontados para o mesmo objeto no espaço. Devido à distância entre esses telescópios, a luz proveniente do objeto chega a cada um deles com um pequeno atraso em relação aos outros. Isso significa que a onda de luz atinge cada telescópio em momentos diferentes dentro de seu ciclo.

Ao combinar as imagens capturadas por esses telescópios, é gerado um padrão de interferência, que pode ser utilizado para criar uma única imagem, muito mais detalhada do que a que seria obtida por um telescópio isolado. Essa técnica permite que vários observatórios trabalhem juntos como se fossem um único telescópio gigantesco, motivo pelo qual o EHT é frequentemente descrito como “um telescópio do tamanho da Terra”.

Embora o EHT seja bem mais complexo do que um telescópio óptico simples, essa regra básica ainda se aplica. Conforme explicado no artigo, “como o EHT já abrange a dimensão do nosso planeta, para melhorar a resolução das observações terrestres foi necessário expandir a faixa de frequência que ele pode captar.”

Desse modo, as futuras atualizações do EHT, conhecidas como “next-generation EHT” (ngEHT), vão intensificar a colaboração global ao incorporar mais observatórios à rede existente. Isso permitirá o uso de múltiplos comprimentos de onda na criação de uma única imagem, resultando em detalhes ainda mais precisos.

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