Gatos domésticos estão extinguindo espécies inteiras

Mateus Marchetto
Imagem: CarolinaP via Pixabay

Estima-se que existam até 600 milhões de gatos domésticos no planeta, incluindo animais que se tornaram ferais. Ao passo que são ótimos companheiros e animais altamente inteligentes, os gatos também estão entre os maiores riscos para a biodiversidade de aves, roedores e répteis no mundo.

Uma pesquisa de 2015 mostra que os gatos são os maiores responsáveis antropogênicos pela mortalidade de aves selvagens, matando em média 2,5 milhões de aves silvestres por ano (1,7 milhões por gatos ferais). Ainda, um estudo de 2016 mostra que gatos participaram na extinção de 63 espécies de vertebrados selvagens.

Lontras e epidemias de origem felina

Um segundo problema com gatos domésticos é o seguinte: eles são vetores para um agente infeccioso de importância mundial. O protozoário chamado Toxoplasma gondii (aparentado do agente causador da malária) causa a toxoplasmose, e é transmitido pelas fezes de gatos, majoritariamente.

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Lontra marinha. Imagem: Christel SAGNIEZ via Pixabay 

Além de causar quadros clínicos sérios em humanos, a toxoplasmose também acomete animais selvagens. Um estudo de 2019 mostra que a toxoplasmose de origem felina está matando lontras marinhas em níveis alarmantes. As fezes contaminadas são levadas pela água até o mar, onde contaminam o hábitat das lontras.

Outro estudo de 2016 mostra que os Gansos-do-Havaí são acometidos pela mesma ameaça das lontras.

Fauna da Nova Zelândia ameaçada

A Nova Zelândia possui uma fauna muito característica de aves com ninhos térreos e sem muita habilidade de voo. Esses animais evoluíram na ilha muito antes da chegada de colonizadores europeus, que carregaram consigo porcos, ratos e gatos. Após a colonização da Nova Zelândia, estes predadores introduzidos dizimaram as aves e roedores nativos, muitos dos quais já estão extintos por esse motivo.

O kākāpō, por exemplo, é o único papagaio incapaz de voar, endêmico da Nova Zelândia. Por não voarem, e não identificarem gatos como predadores, os kākāpō são presas fáceis e mortos em grande quantidade por gatos ferais no país.

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Kākāpō. Imagem: Mnolf via Wikipedia

O  lagarto de Otago é outro exemplo de animal endêmico da Nova Zelândia ameaçado pelos felinos. Estima-se que existam apenas 2.000 destes répteis vivos em todo o planeta. Assim como os kākāpō, eles são presas fáceis para os gatos ferais.

A perda de diversidade genética do Gato-Chinês-Do-Deserto

A diversidade genética é um fator muito importante na conservação de uma espécie. Quando a diversidade dos genes diminui, a espécie tende a ter doenças genéticas e características deletérias em maior proporção.

Segundo estudos genéticos, o Gato-Chinês-Do-Deserto (Felis bieti), uma espécie nativa do Planalto Tibetano, vem perdendo sua diversidade genética devido à reprodução com gatos domésticos.

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Felis bieti. Imagem: 西宁野生动物园 via Wikipedia.

Pantera-da-Florida e leucemia de gatos domésticos

A leucemia felina (ou Felv) é uma das doenças mais graves que acometem gatos, e é causada por um vírus. Apesar de haver vacinas contra a Felv, a doença circula amplamente em animais não vacinados, tanto pets como ferais.

Pesquisadores descobriram que a Felv também pode infectar felinos selvagens de grande porte, como pumas. A pantera-da-Flórida, uma subespécie de puma, é um dos animais mais ameaçados do planeta, com apenas 200 indivíduos vivos. Acontece que um surto de Felv matou 5 panteras-da-Flórida em 2008. Segundo um estudo do caso, a transmissão deve ter ocorrido por gatos domésticos.

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Mãe e três filhotes de panteras-da-Flórida. Imagem: U.S. Fish and Wildlife Service Southeast Region via Wikipedia

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