Em uma descoberta verdadeiramente impressionante, um biólogo teve a rara oportunidade de observar um fenômeno extraordinário nas densas florestas da Amazônia peruana: uma aranha infectada pelo fungo cordíceps, que ganhou popularidade por sua representação na série da HBO, “The Last of Us“.
Este fungo, que na ficção transforma hospedeiros em criaturas apavorantes, foi encontrado atacando um aracnídeo de proporções surpreendentes. O tamanho da aranha, comparável ao de um smartphone moderno, deixa a cena ainda mais impactante.
Um fungo poderoso
A tarântula pertencente à família Theraphosidae exibiu sinais inconfundíveis da infecção pelo fungo cordíceps, com filamentos brancos que se estendiam sobre o seu corpo. Esses filamentos têm a função de alcançar a maior altura possível, maximizando a dispersão dos esporos pelo vento, garantindo assim a propagação do fungo.
Os cordíceps possuem uma habilidade que parece saída diretamente de um conto de ficção científica: eles conseguem invadir o corpo de insetos, infiltrando-se no sistema nervoso após terem saturado o organismo do hospedeiro com seus esporos.
Uma vez que o fungo atinge o cérebro da vítima, ele assume o controle, manipulando o comportamento do inseto e forçando-o a se mover para o ponto mais alto que conseguir alcançar. Este comportamento é uma estratégia evolutiva que visa aumentar a dispersão dos esporos, permitindo que o fungo continue seu ciclo de vida ao infectar outros insetos.
Na comunidade científica, esses fungos são conhecidos como entomopatogênicos, termo que se refere à sua capacidade de infectar insetos. Curiosamente, cada espécie de inseto é suscetível a uma variedade específica de fungo cordíceps, demonstrando uma relação altamente especializada e adaptada entre o parasita e seu hospedeiro.
Apesar do registro, tarântulas infectadas são raras
De acordo com Chris Ketola, o pesquisador responsável pela descoberta da aranha já sem vida, é extremamente raro encontrar tarântulas infectadas por esse fungo.
Ketola, que passou muitos anos dedicando-se à pesquisa, afirma ter encontrado apenas três casos semelhantes em todo o seu tempo de campo. Ele é membro da Fauna Forever, uma organização não-governamental que realiza importantes trabalhos de conservação e pesquisa tanto no Peru quanto em Uganda.
Enquanto na série “The Last of Us” o fungo cordíceps é retratado como uma ameaça que infecta humanos e leva ao colapso da sociedade moderna, na realidade, esses fungos não representam qualquer perigo para nós.
Pelo contrário, eles têm sido utilizados há séculos em algumas culturas, tanto na medicina tradicional quanto na culinária. Um exemplo disso pode ser visto em certos pratos chineses que incorporam o cordíceps como ingrediente, demonstrando sua importância e valor na cultura e na saúde humana.
Ficção alarmante?
Neil Druckmann, o talentoso criador da renomada série de jogos eletrônicos que eventualmente serviu de base para a produção televisiva, já revelou que se inspirou nos cordíceps — atualmente conhecidos na comunidade científica como Ophiocordyceps — para desenvolver o enredo de “The Last of Us”. Essa inspiração surgiu após Druckmann assistir a um documentário aprofundado sobre esses fungos fascinantes, que explorava suas características e comportamentos únicos.
Os cordíceps possuem um ciclo de vida extremamente intrigante e complexo, que lembra bastante o conceito de “zumbis” frequentemente retratado na cultura popular.
Apesar dessas semelhanças impressionantes com os zumbis fictícios, na realidade, os cordíceps não representam uma ameaça para os seres humanos. Isso se deve, principalmente, à temperatura corporal dos humanos, que é significativamente mais alta do que a dos insetos, criando um ambiente hostil para o crescimento e a proliferação do fungo dentro do nosso organismo.
Contudo, a possibilidade de um “pulo” zoonótico; ou seja, a transferência de um patógeno de uma espécie para outra, já foi observada com outros tipos de fungos, como a Candida auris. Este fungo emergente é conhecido por sua capacidade de infectar seres humanos e por apresentar resistência a múltiplos medicamentos antifúngicos, o que o torna uma preocupação crescente na área da saúde pública.