Fósseis dos primeiros Homo sapiens são ainda mais antigos do que se imaginava

Mateus Marchetto
Formação Omo Kibish. Imagem: Céline Vidal

Pesquisadores descobriram fósseis dos primeiros Homo sapiens da África Oriental ainda nos anos 60. Inicialmente datados de 130.000 anos de idade, os resquícios já eram na época alguns dos mais antigos da nossa espécie. Novos estudos indicam, todavia, que estes fósseis podem na verdade ter mais de 230.000 anos.

Foi na Etiópia, nos anos 60, que o paleoantropólogo Richard Leakey descobriu fósseis com anatomias muito parecidas com as dos humanos modernos. Sem dúvidas, estes fósseis eram alguns dos primeiros Homo sapiens que tinham características muito parecidas com seus descendentes (nós). Os habitantes fossilizados da Etiópia receberam então o nome Omo I, em homenagem ao Rio Omo.

Acontece que uma sequência de pesquisas vem esticando cada vez mais a idade dos fósseis dos primeiros Homo sapiens, os Omo I. Já nos anos seguintes à primeira datação (que indicava 130 mil anos de idade), a análise e datação radioativa do solo nos arredores mostrou que os restos fossilizados poderiam ter até 200.000 anos.

Restos humanos mas antiguos del este de Africa datan de hace mas de 230.000 anos
Pesquisadores em campo na Formação Omo Kibish. Imagem: Céline Vidal

Agora, contudo, uma nova pesquisa publicada na Nature identificou camadas de cinza vulcânica entre os fósseis que podem auxiliar na datação. De acordo com o artigo, o registro fóssil estava entre duas camadas de cinzas. A primeira camada, acima dos fósseis, tem pelo menos 230.000 anos de idade.

Ou seja, nossos primeiros ancestrais com características mais modernas devem ser ainda mais antigos que estas cinzas.

“Os fósseis foram encontrados em uma sequência, abaixo de uma camada grossa de cinza vulcânica que ninguém conseguira datar com técnicas radiométricas, porque a cinza é muito granulada e fina,” diz a autora Céline Vidal, da Universidade de Cambridge.

Caçando erupções e os primeiros Homo sapiens

A área da Etiópia em que estes – e vários outros – fósseis emergiram é altamente ativa vulcanicamente. E ela tem sido assim pelos últimos milhares de anos, o que deve ter deixado registros geológicos que podem auxiliar na datação de fósseis.

“Cada erupção tem sua própria digital – sua própria história evolucionária abaixo da superfície, a qual é determinada pelo caminho que o magma seguiu,” diz Vidal. “Uma vez que você esmigalha a rocha, você libera minerais com isso, e então você pode os datar e identificar a assinatura química do vidro vulcânico que mantém os minerais juntos.”

Usando essa ‘digital’ geoquímica, a equipe então pode ligar as cinzas do sítio de escavação dos Omo I a uma erupção do vulcão Shala, a 400km de distância. Essa erupção, por conseguinte, ocorreu há 230.000 anos e cobriu os ossos dos Omo I. A partir disso vem a conclusão de que os fósseis eram ainda mais antigos que as cinzas do vulcão Shala.

A pesquisa está disponível no periódico Nature.

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