Fósseis curiosos de “morfologias extremas” mudam paradigma sobre insetos

Mateus Marchetto
Imagem: Haug et al. / Scientific Reports, 2021

Um conjunto de fósseis conservados em âmbar, vindos de Mianmar, pode mudar boa parte do que pensamos sobre a evolução das larvas e insetos. Segundo pesquisadores, larvas de “morfologias extremas” foram encontradas no âmbar.

A pesquisa, publicada no periódico Scientific Reports, relata a descoberta de larvas de insetos conservadas no âmbar por mais de 100 milhões de anos, no solo de Mianmar. De acordo com os autores, as larvas pertencem ao grupo dos holometábolos – insetos que possuem uma metamorfose completa – e apresentam características curiosas.

Acontece que a maioria das larvas dos holometábolos, que representam em torno de 80% das espécies de insetos, possuem apêndices e estruturas bucais curtas e pouco desenvolvidas. Isso porque estas larvas se alimentam de pulgões e outros pequenos invertebrados com carapaças pouco duras.

Já as larvas de 100 milhões de anos possuem “morfologias extremas” como os autores descrevem. Essa morfologia se refere justamente às estruturas bucais e apêndices destas larvas, que são altamente desenvolvidas e, provavelmente, mortais para suas antigas presas.

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Imagem: Haug et al. / Scientific Reports, 2021

Especialmente, uma estrutura chamada “estilete” (do inglês, stylet) se mostrou bastante longa e afiada nas larvas pré-históricas. A função desta parte do aparato bucal, de acordo com a pesquisa, era manter a presa longe após a aplicação do veneno – que mesmo larvas podem produzir.

Isso muda, portanto, a ideia de larvas pouco desenvolvidas e com estruturas corporais ainda não completamente funcionais. Ao contrário disso, as larvas de holometábolos podem ter tido, há milhares de anos, estágios de transição mais semelhantes às suas formas adultas, pelo menos no que tange à caça.

Uma peça faltando nos fósseis: o que estas larvas comiam, afinal?

A nova pesquisa mostra, primeiramente, um grande detalhe e abundância de evidências sobre a forma de vida destas larvas há milhões de anos. Em especial, os insetos presentes no âmbar eram da ordem Neuroptera, que abrange animais visualmente semelhantes ao louva-deus (apesar deste último ser de uma ordem completamente diferente.)

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Imagem: Francisco Corado / Pixabay 

Contudo, uma evidência essencial não aparece na cena congelada no tempo pelo âmbar: em quais presas estas larvas usavam estas estruturas mortais?

Apesar de termos dados bastante sólidos sobre insetos vivos hoje, é muito difícil extrapolar quais seriam as presas dessas larvas de 100 milhões de anos. Os usos reais destas morfologias extremas, portanto, ainda são pouco especificados.

Entender essa relação, ademais, é importante pela tamanha diversidade dos insetos holometábolos presentes no planeta. Em termos ecológicos, larvas de insetos como os Neuroptera têm uma função essencial na transmissão de nutrientes ao longo da cadeia alimentar. Ou seja, eles absorvem nutrientes de pequenos animais e os disponibilizam no ambiente, seja para predadores ou para decompositores.

Na pesquisa, a equipe afirma: “[Estes espécimes] demonstram, novamente, que considerar apenas a fauna moderna irá levar à impressão de que certas restrições morfológicas ou desenvolvimentistas existem, mas que são apenas de fato apenas artefatos devido à ‘filtração da história’.”

Ou seja, por mais que a fauna atual forneça grandes fontes de interpretação sobre o processo evolutivo, é difícil dizer como ele aconteceu exatamente. As presas dessas larvas de morfologias extremas poderiam, por exemplo, ajudar pesquisadores a entender como estas estruturas evoluíram em diversas larvas de espécies diferentes e quais seus usos.

A pesquisa está disponível no periódico Scientific Reports

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