Em um bosque ao oeste da Polônia, encontra-se uma base nuclear soviética desmontada, com dois bunkers subterrâneos onde as munições nucleares eram mantidas, há muito tempo atrás. Depois que o complexo militar foi abandonado, essas cavernas feitas por humanos tornaram-se grandes locais de descanso para os morcegos no inverno. Em 2010 pesquisadores começaram a visitar o local para monitorar o comportamento dos morcegos, porém eles se depararam com algo um pouco diferente: uma enorme quantidade de formigas de madeira (Formica polyctena) presas no chão do bunker, sobrevivendo sem uma rainha, luz, calor ou qualquer um de seus confortos usuais. Eles logo suspeitaram de que o grupo de formigas sobreviveram devido a práticas canibais.
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Quando essa ‘colônia’ de formigas foi descoberta, já incluía cerca um milhão de trabalhadoras vivas e vários outros milhões de mortos. Elas não estavam se reproduzindo, a população estava sendo reabastecida por puro acidente, acontece que no teto do bunker, havia um cano de ventilação enferrujado, conectando a caverna escura à floresta acima. Lá, uma colônia gigante de formigas havia construído um formigueiro logo acima do bunker; quando o metal enferrujou, algumas de suas fileiras começaram a cair na caverna de concreto abaixo. E muitas formigas começaram a cair dentro da escuridão do bunker, não podendo retornar, elas encontraram uma forma de sobreviver: “tornaram-se” formigas canibais, devorando os cadáveres das outras formigas que morreram no local.
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Como investigar os limites das condições de vida das formigas é um assunto de grande interesse para muitos entomologistas, por vários anos, os pesquisadores fizeram viagens repetidas ao bunker e observaram fascinados enquanto essa população isolada continuava a crescer e sobreviver apesar da falta de luz, calor ou alimento. A primeira suspeita foi de que elas estavam sobrevivendo por meio do canibalismo, já que não haviam outras fontes de nutrientes dentro do abrigo. Para confirmar esse palpite, uma equipe de pesquisadores coletou cadáveres de vários ‘cemitérios’ de formigas espalhados dentro do bunker. Examinando de perto 150 formigas mortas, a equipe percebeu que a grande maioria dos corpos (cerca de 93%) tinha buracos e marcas de mordidas.
Os cadáveres serviram como uma fonte inesgotável de alimento, o que permitiu substancialmente a sobrevivência das formigas presas em condições extremamente desfavoráveis. Aparentemente, as formigas de madeira podem lidar com adversidades notáveis em sua tentativa de sobrevivência, mas a prática de canibalismo não é nenhuma novidade entre essa espécie de formiga. Sabe-se que formigas de madeira, em particular, consomem seus próprios mortos durante as “guerras de formigas” territoriais, quando a comida é escassa. Em 2016, os pesquisadores instalaram um calçadão de madeira no bunker, conectando o tubo de ventilação ao chão. Dentro de quatro meses, quase todas as formigas presas abandonaram o chão do bunker. Se alguma formiga acabar caindo no chão do bunker, ela poderá subir novamente para o seu lar.
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A pesquisa foi publicada no Journal of Hymenoptera Research.
FONTE / Science Alert