Fóssil de 99 milhões de anos mostra última batalha da “formiga infernal”

Erik Behenck
A formiga infernal ataca sua presa. (Imagem: Barden, Wang e Perrichot)

Durante o Cretáceo existiu um animal que posteriormente ficou conhecido como “formiga infernal”, que foi extinta cerca de 65,5 milhões de anos atrás. Ela era um predador feroz, com mandíbulas compridas e curvas, que iam em direção ao topo da cabeça da espécie. Por sorte, temos o registro de um ataque contra barata, que foi envolvido por seiva pegajosa, se transformando em âmbar e sobrevivendo todo esse tempo.

Atualmente não existe nenhuma formiga com características parecidas. Não basta a estranheza facial delas, ainda contavam com um chifre, que podia ser diferente conforme a formiga, chamado de Haidomyrmecine.

As formigas modernas prendem suas mandíbulas de maneira horizontal, enquanto estas balançavam as mandíbulas para cima, com o objetivo de pegar as presas. Agora, finalmente os pesquisadores puderam encontrar algo que prove essa ideia, um pedaço de âmbar localizado em Mianmar, na Ásia.

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Está seria a formiga do inferno. Imagem: Barden e Grimaldi.

Estes animais estão entre as primeiras formigas que surgiram 

A formiga infernal viveu entre 145,5 e 65,5 milhões de anos atrás e já foram encontradas em países como Mianmar, França e Canadá. Faz aproximadamente um século que a primeira delas foi descrita, desde então os pesquisadores já identificaram 16 espécies, todas elas com mandíbulas e chifres alongados.

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Aqui uma reconstituição 3D da mandíbula da formiga do inferno. Imagem: Barden, Wang e Perrichot.

O achado em Mianmar é raro, mostrando o momento exato de predação fossilizada. Conforme o biólogo evolucionista Phillip Barden, professor assistente do Departamento de Ciências Biológicas do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, a descoberta foi importante para comprovar uma ideia.

“Quando começamos a trabalhar nas formigas infernais entre 2011 e 2012, parecia que a única maneira de eles se alimentarem era movendo as partes da boca na vertical”, disse. Na época, a noção era “um pouco controversa”, mas agora a ideia se mostrou verdadeira.

Os pesquisadores fizeram modelos 3D das cabeças da Ceratomyrmex ellenbergeri, uma das espécies de formiga infernal, comparando com formigas atuais e extintas. Isso confirmou que as infernais estavam entre as primeiras formigas a existirem.

Formiga infernal x barata: a batalha final

Infelizmente para a formiga infernal, ela não conseguiu fazer desta barata seu alimento. Ainda assim, Barden sugeriu o que pode ter acontecido. Segundo ele, possivelmente a formiga picou a barata, com o objetivo de paralisar a presa. A ideia original era de que todas as formigas deste grupo perfuravam as presas e bebiam a homolinfa, que é como se fosse o sangue do inseto.

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Imagem: Barden, Wang e Perrichot.

Acontece que o chifre da espécie Ceratomyrmex não era utilizado para perfurar, diferente das outras da mesma linhagem. Assim, a explicação para os modos alimentares é semelhante ao adotado pela formiga moderna Drácula, que vive em Madagascar, e que também conta com uma mandíbula estranha.

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A formiga drácula, nome da Mystrium camillae, morde a uma velocidade 5 mil vezes mais rápida que uma piscada de olho. (Imagem: ADRIAN SMITH)

As mandíbulas são tão avantajadas que elas não conseguem se alimentar. “Elas alimentam suas próprias larvas – e as larvas têm peças bucais não especializadas, para que possam mastigar normalmente”, explica Barden.

Com as larvas alimentadas, as formigas adultas perfuram os lados das larvas e bebem a homolinfa dos seus próprios filhos. Ou seja: canibalismo, mas neste caso não destrutivo. É um sistema conhecido como alimentação social.

Nem mesmo tão poderosas elas sobreviveram

Possivelmente estas formigas foram extintas durante mudanças ecológicas acontecidas no Cretáceo-Paleogene. Além delas, outros grupos de formigas também podem ter sido extintos no mesmo período.

Segundo Barden, é interessante avaliar a história de espécies extintas, para descobrir o que causou isso, permitindo ainda que outras continuassem vivendo. “Insetos fósseis são um lembrete de que mesmo algo tão onipresente e familiar como formigas têm extinção”, disse ele.

Com informações de Live Science e e Phys Org.

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