Focas filhotes podem alterar seu tom de voz para chamar a atenção da mãe, assim como os bebês humanos

Jamille Rabelo
Filhote de foca com melanismo. Imagem: Hanne Siebers/ National Trust

Os humanos mudam seu tom de voz constantemente, seja para indicar surpresa ou preocupação, mas é uma característica relativamente rara entre outros mamíferos. Dessa forma, pesquisadores que estudam o aprendizado vocal estão muito interessados nos poucos animais que podem fazer isso, um dos quais é a foca-comum.

Em um novo artigo, os cientistas exploraram se os filhotes poderiam adaptar suas vozes a um ambiente barulhento e descobriram que, mesmo com pouco tempo de vida, estes animais são capazes de mudar seu tom de voz para serem ouvidos.

“Sem nosso controle desenvolvido para a produção de som, a linguagem falada – incluindo a aprendizagem de novos sons durante a infância – seria impossível. Outras espécies podem fazer isto?” diz Andrea Ravignani, líder do grupo de Bioacústica Comparativa do Instituto Max Planck.

Focas aprendendo a vocalizar

O estudo, publicado na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B, analisou oito filhotes de foca-comum (Phoca vitulina) de uma a três semanas de idade que estavam em reabilitação no Sealcentre Pieterburen, na Holanda. Os filhotes retornaram ao oceano mas contribuíram no estudo antes de serem liberados.

A equipe de cientistas expôs as focas a sons gravados do Mar de Wadden, oferecendo os filhotes com sons do oceano que variavam de silenciosos a 65 decibéis. A altura do tom dos sons correspondia à das chamadas dos filhotes, então os pesquisadores estavam investigando se as focas alteravam seu tom em resposta, chamado de “frequência fundamental”.

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Imagem: John O’ Connor.

Os resultados mostraram que os filhotes modificaram suas vocalizações diminuindo sua frequência fundamental em resposta a um “oceano” barulhento. As mudanças que eles exibiram estavam correlacionadas com as condições particulares de ruído às quais eles estavam expostos. De acordo com Ravignani, esta adaptação pode beneficiar os animais ao ajudar suas mães a ouvi-los em um berçário lotado.

“Se as focas bebês agissem como a maioria dos animais, esperaríamos apenas que elas aumentassem a intensidade de suas vozes à medida que o ruído aumentasse”, disse Ravignani. “Entretanto, as focas abaixaram o tom de suas vozes para escapar da faixa de frequência do ruído, algo que somente animais com bom controle de sua laringe (incluindo humanos, mas excluindo potencialmente a maioria dos mamíferos) podem fazer”.

“Isto mostra plasticidade vocal em filhotes de focas desde cedo, sugerindo que as focas podem ser um dos poucos mamíferos que, como os humanos quando cantam ou falam uma língua tonal, podem modular flexivelmente o tom de suas vozes”.

A equipe por trás da pesquisa espera que, estudando outro mamífero capaz de manipular sua voz de forma semelhante à dos seres humanos, possamos começar a construir uma árvore evolucionária que exponha o surgimento de blocos de construção da fala. Demonstrando que o controle da voz dos seres humanos pode não ser tão único quanto se pensava anteriormente. O próximo passo é procurar plasticidade em outros aspectos das vozes das focas, como formantes (que permite aos humanos produzir uma variedade de sons de vogais) e ritmo de voz.

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