Flor presa em âmbar foi finalmente identificada após 150 anos

Felipe Miranda
Imagem: Carola Radke, MfN/Divulgação

Em 1872, uma flor encontrada em um território que faz parte da atual Rússia, foi classificada como Stewartia kowalewskii, uma espécie já extinta de floração. A descrição de 150 anos, porém, jamais foi revisada – até agora. O fóssil da flor está conservado em âmbar e data o Eoceno, período entre 56 e 37 milhões de anos atrás.

“Este fóssil foi descrito há mais de 150 anos como Stewartia kowalewskii (Theaceae) e nunca foi revisado. A análise do pólen extraído das anteras da inclusão floral, no entanto, revelou fortes afinidades com espécies asiáticas de Symplocos (Symplocaceae), levando à nova combinação de pente Symplocos kowalewskii“, diz uma dupla de pesquisadoras em um artigo que apresenta uma revisão na descrição da flor. O artigo foi publicado em janeiro no periódico Scientific Reports.

Conforme conta ao New York Times, Eva-Maria Sadowski, pesquisadora de pós-doutorado no Museu de História Natural de Berlim, emprestou a flor conservada em âmbar sem nada específico em mente, a não ser a pura curiosidade da investigação científica. O fóssil estava na coleção do Instituto Federal de Geociências e Recursos Naturais de Berlim e não recebia a devida atenção.

“Eu fiz isso sem nenhuma expectativa, eu só fiz isso porque eu estava curiosa”, disse Sadowski ao NYT

A flor cresceu em uma floresta de árvores coníferas no Báltico cerca de 40 milhões de anos atrás. O âmbar que pingava na flor a conservou até os dias de hoje. Isso é bastante raro ente plantas: apenas 1 a 3% dos espécimes em âmbar no Báltico são organismos botânicos. Isso ocorre porque os insetos vão voluntariamente para o âmbar ainda fresco, e ficam por lá, conservados. Já as plantas precisam cair acidentalmente.

Se você frequenta muito uma região rural, é bem provável que já tenha visto algum inseto conservado assim.

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A imagem mostra alguns detalhes da flor conservada no âmbar. Imagem: Sadowski et. al

A raridade dessas plantas carrega uma importância especial: uma riqueza em informações sobre o passado. Elas são boas fontes de estudos para os paleobotânicos, pois conserva informações delicadas em três dimensões.

Chamando atenção pelo seu tamanho, o espécime é três vezes maior do que o segundo colocado entre as maiores plantas conservadas. Essas plantas conservadas em âmbar geralmente não ultrapassam os 10 milímetros de diâmetro, mas esse, especificamente, mede seus 28 milímetros de diâmetro.

Cuidadosamente, Sadowski raspou grãos da superfície. Ao isolar e fotografar cuidadosamente os grãos coletados, Christa-Charlotte Hofmann, da Universidade de Viena e coautora do estudo, investigou melhor a anatomia da flor através de imagens microscópicas e o pólen da planta.

“Esses minúsculos grãos são registradores naturais de climas e ecossistemas passados que podem nos ajudar a medir o quanto nosso planeta mudou no passado devido a causas naturais (não humanas)”, disse ao NYT o paleobotânico, Regan Dunn, do La Brea Tar Pits and Museum. “Isso nos permite entender melhor o quanto nossa espécie está impactando o planeta”. Dunn não participou do estudo.

As análises apresentaram um parentesco da flor não com o Theaceae mas com o Symplocos, um gênero de arbustos floridos e pequenas árvores. O gênero já não é encontrado na Europa nos dias de hoje, mas ainda possui uma ocorrência na Ásia Oriental.

A dupla explica que “os detalhes bem preservados da ornamentação do pólen facilitaram a identificação da flor, o que mostra o grande benefício da extração do pólen, bem como a necessidade de análises”.

“S. kowalewskii era provavelmente um constituinte de florestas mistas de angiospermas-coníferas na área de origem do âmbar do Báltico e suporta suas afinidades com florestas sempre verdes de folha larga e mesófilas mistas do leste e sudeste da Ásia atual”, escrevem os pesquisadores no artigo.

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