Filhotes de cachorro nascem prontos para identificar gestos humanos

Mateus Marchetto
A genética dos cães pode envolver sua habilidade para identificar gestos humanos, de acordo com esta nova pesquisa. Imagem: Free-Photos/ Pixabay

Boa parte do conhecimento dos seres humanos vem do ensino. O mesmo acontece com outros mamíferos como cães. Todavia, uma nova pesquisa sobre nossos amigos caninos mostra que eles podem ser preparados geneticamente para interagir e identificar gestos humanos.

A pesquisa, disponível no jornal Current Biology testou 375 filhotinhos de labrador e golden retriever. Os filhotes passaram por diversos testes cognitivos envolvendo sinais e gestos dos seres humanos, como vamos detalhar mais à frente.

O que os resultados mostraram é que mesmo os filhotes (entre oito e dez semanas de idade) já podem entender gestos humanos, como quando apontamos o indicador para algo. Isso mostra que além do aprendizado, os cães podem ter evoluído características genéticas para interagir melhor com os seres humanos.

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Imagem: Katrin B./ Pixabay

Os filhotes, aliás, são integrantes da ONG Canine Companions, que cria labradores e goldens para atuarem como cães-guia. Assim, a organização possuía dados importantes do pedigree dos bichinhos. Isso, portanto, ajudou bastante na caracterização genética dos animais para o estudo.

De acordo com os resultados da pesquisa, por exemplo, a capacidade de fazer contato visual ou entender sinais dos humanos é altamente hereditária no grupo dos doguinhos. De acordo com o estudo, mais de 40% do comportamento dos animais tem origem genética.

Como saber se os cães podem identificar gestos humanos

Além da análise genética, os pesquisadores realizaram quatro principais testes comportamentais para chegar às conclusões da pesquisa de que cães podem identificar gestos humanos.

No primeiro teste, um pesquisador colocava um biscoito sob um copo plástico de cabeça para baixo, com outro copo sem nada embaixo ao lado a uma certa distância, sem que o filhote visse. O pesquisador então apontava para o copo com o biscoito para ver se o cão seguia sua indicação ou não.

Para evitar o olfato aguçado dos cachorrinhos, os copos receberam um odor fake para disfarçar o do biscoito. Assim, no ‘controle de odor’, sem os gestos humanos, os cães acertaram apenas 49% das tentativas.

A segunda prova foi bem parecida, mas em vez de apontar, o pesquisador colocava um objeto chamativo (um cubo amarelo) ao lado do copo com o biscoito.

Nesse primeiro estágio, envolvendo os dois testes, os filhotes acertaram o copo em 67% dos casos, bem mais do que os 50% esperados ao acaso.

Para avaliar o contato visual, por outro lado, os pesquisadores fizeram mais dois procedimentos. Em um deles, o humano ficava próximo do cão, separado por uma cerca, falando com o bichinho durante 30 segundos. Isso chamava a atenção dos animais por em média 6 segundos.

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Imagem: Helena Sushitskaya/ Pixabay

Por fim, o último teste possuía uma caixinha lacrada, impossível para o filhote abrir, com biscoitos dentro. No geral, ao constatar que não conseguiriam os biscoitos sozinhos, os filhotes mantinham contato visual com os humanos.

Os resultados reforçam, portanto, uma longa história evolutiva entre cães e sapiens que, ao que parece, alterou até mesmo os genes de ambos.

O artigo está disponível no periódico Current Biology.

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