Francis Galton é o pai da Eugenia. Primo de Charles Darwin, Galton tentou extrapolar a teoria da evolução para “melhorar” a raça humana. Em 1869, publicou o livro Hereditary Genius (Hereditariedade do Gênio, em tradução livre para o português). Nesse livro, ele explora uma ideia da qual muita gente já acreditou: filhos de gênios serão gênios. Nessa concepção, filhos de cientistas poderiam ser cientistas por motivos genéticos.
Entretanto, em muitos casos, o ambiente exerce uma importância maior do que a genética. Por exemplo, a carreira da ciência possui uma hereditariedade mais comportamental do que uma hereditariedade genética. Em alguns casos pode ser, claro, algum componente genético, mas o ambiente exerce uma influência muito maior.
Outro ponto importante de se explorar, é o conceito de inteligência. Um cientista não é necessariamente inteligente, ou gênio. Há pouquíssimos gênios. Além disso, há diversos tipos de inteligência, e dominar a ciência é resultado de muito estudo, e não a definição de inteligência.
Entre as semelhanças de pais e filhos, há, obviamente, o componente genético. Mas também há a influência do ambiente.
“Os genes fazem uma diferença substancial, mas não são a história toda. Eles respondem por cerca de metade de todas as diferenças de inteligência entre as pessoas, portanto, metade não é causada por diferenças genéticas, o que fornece forte suporte para a importância dos fatores ambientais”, diz Robert Plomin, vice-diretor do Centro de Psiquiatria Social, Genética e do Desenvolvimento do King’s College London em um texto na Scientific American.
Tal pai, tal filho
Richard Feynman foi um grande físico. Eles cresceu em um ambiente propício, já que seu pai o ensinava a ser curioso e questionador. Embora não tão incentivada por sua mãe, Joan Feynman, irmã de Richard, também se tornou cientista, seguindo a área da astrofísica. Carl Feynman, filho de Richard, também seguiu a área da ciência, e é hoje cientista da computação e professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
Hans Albert Einstein é filho do físico Albert Einstein e da matemática Mileva Marić. Hans se tornou professor de engenharia hidráulica pela Universidade de Berkeley. Quando formou-se engenheiro, diplomou-se na mesma instituição que seus pais, a ETH Zurich.
Filhos de cientistas possuem duas vezes mais propensão a se diplomar em alguma área da ciência do que filhos de pais com diplomas em outras áreas. Conforme já explicado, isso não ocorre porque há algum fator genético que tragam pessoas para a ciência, mas a simples influência do ambiente.
Filhos de cientistas e suas histórias
“Meu pai é Han de Winde, pesquisador de biotecnologia da Universidade de Leiden, na Holanda. Minha mãe se formou como enfermeira pediátrica e trabalha há quase 25 anos como enfermeira”, diz Lotte de Winde, pesquisador associado na Amsterdam UMC, na Holanda em um artigo publicado na coluna Career Feature, da revista Nature por Andy Tay, professor assistente no Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade Nacional de Cingapura (NUS).
“Inicialmente, eu queria me tornar um médico, mas como um estudante de graduação, eu estava profundamente atraído para o estudo do nosso sistema imunológico. Eu queria entender por que um sistema que é feito para nos manter saudáveis estava falhando em erradicar o câncer. Agora, eu estudo linfoma”, diz.
Mark Prausnitz também conta sua influência na coluna publicada na Nature:
“Cresci perto da Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde meu pai, John Prausnitz, engenheiro químico, é hoje professor emérito. Minha falecida mãe, Susan Prausnitz, era paralegal”.
“Viver naquele ambiente deu à minha irmã mais velha e a mim um vislumbre precoce de como seria uma carreira na ciência”, diz.
A engenheira explica: “Minha irmã se tornou pesquisadora da área da saúde e eu decidi seguir os passos do meu pai e me tornar engenheira química”.