Exposição exibe quadro negro de Stephen Hawking com anotações inéditas

Jônatas Ribeiro

Stephen Hawking é uma figura que, sem dúvida, está entre os grandes cientistas da história. O grande físico teórico é muito lembrado por seu trabalho em divulgação científica, tendo lançado clássicos como Uma Breve História do Tempo e O Universo numa Casca de Noz. De fato, seus livros trouxeram ao público leigo tópicos extremamente avançados da fronteira da ciência. Os escritos abordavam desde questões comprovadas experimentalmente, como os princípios da relatividade geral, a formulações matemáticas novas como a teoria das cordas e o multiverso. Enfim, não é exagero dizer que o Prof. Hawking incentivou a formação de muitos cientistas em atividade hoje. E além disso, incitou a curiosidade em muitos aficionados pelo entendimento do universo.

Nisso, Hawking segue a tradição de outro grande divulgador científico, também muito presente na mídia: Carl Sagan. Assim, como Sagan, porém, sua vida não seu resumiu a seus livros de divulgação. Também não se resumiu à sua luta contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que iniciou em seu corpo quando ainda era jovem. Hawking era um notório pesquisador em física teórica, com trabalhos fundamentais na compreensão de buracos negros. Chamamos hoje de radiação Hawking a radiação térmica emitida por um buraco negro devido a efeitos quânticos. Devido a essa radiação, é possível que o buraco negro perca mais massa do que adquire sugando matéria, levando ao seu encolhimento e possível desaparecimento.

Como cosmólogo de formação, isto é, um físico preocupado em estudar a origem e evolução do universo, Hawking também teve trabalhos importantes sobre a teoria do Big Bang e a relatividade geral. Era de se esperar, assim, que o brilhante cientista também tenha se debruçado sobre uma das perguntas mais fundamentais da ciência moderna: a Teoria de Tudo.

Física dividida

equações quânticas
Imagem: virtualphoto

Desde o desenvolvimento da chamada física moderna no século XX, isto é, da mecânica quântica e da relatividade, é como se a física tivesse sido dividida em dois campos, com pouca intersecção. A relatividade abrange o domínio do macroscópico. E como parte do macroscópico, tem uma espécie de continuidade direta com a física newtoniana, que já era bem conhecida. Ou seja, em velocidades próximas à da luz no vácuo, começam os efeitos, muitas vezes estranhos, da relatividade. Para velocidades mais baixas, o regime clássico da física, o newtoniano, domina. E as equações, dependentes exatamente da velocidade, dizem o mesmo.

Já para a mecânica quântica, a formulação é completamente diferente. Os primórdios da física quântica já indicavam efeitos não muito óbvios. Por exemplo, no caso da energia. Essa, para esses objetos menores do que microscópicos é dita quantizada, ou seja, existe somente em valores específicos, saltando de um para o outro. Isso é bastante diferente do que se vê em nosso dia-a-dia, em que a energia é contínua. Com o advento da mecânica quântica, as coisas ficaram ainda mais complicadas.

A teoria, nesse caso, é probabilística. Isto é, indica a probabilidade de um objeto estar em determinado estado quântico. É possível, nesse contexto, falar até mesmo de superposição de estados. Um bom exemplo é o famoso gato de Schrödinger. Se um gato está preso numa caixa com material radioativo rapidamente letal, não temos como saber se está vivo ou morto até observamos como está. Ou seja, enquanto não o fazemos, está em uma superposição de estados, vivo e morto. O experimento mental do grande físico teórico que dá nome ao exemplo não é literal. Afinal, um gato não é um objeto quântico. Mas serve para compreendermos como se dão esses confusos princípios.

Ideias perdidas de Hawking?

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Stephen Hawking na Universidade de Cambridge. Imagem: Reprodução

A Teoria de Tudo é o nome que se dá para as tentativas de unificação desses mundos distintos da física. Em especial, da gravidade como compreendida pela relatividade geral, isto é, como distorções do tecido do espaço-tempo, e da mecânica quântica. É um esforço que já estava entre as preocupações de Albert Einstein. E, segundo um quadro negro preservado desde os anos 80, de Stephen Hawking também.

Durante uma conferência sobre as próprias tentativas da Teoria de Tudo, Hawking e amigos utilizaram o quadro negro para expressar suas reflexões, comentando sobre supergravidade e assuntos de fronteira da ciência. Boa parte do quadro, porém, está também recheada de piadas e ironias, com desenhos de marcianos e animais referenciando assuntos científicos.

O quadro negro agora faz parte de uma exposição recentemente aberta do Science Museum of London, que inclui também uma cópia da célebre tese de doutorado de 1966 do físico, sua cadeira de rodas e uma jaqueta dada a ele pelos criadores de Os Simpsons, em homenagem às suas diversas aparições na série. Milhares de pessoas, incluindo cientistas, pelo mundo agora podem visitar algumas intimidades da grande mente de Hawking. E talvez, descobrir ideias perdidas em seu confuso, mas intrigante, quadro negro.

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