Thaís Vasconcelos, de 29 anos, graduada em ciências biológicas e mestrado em botânica pela Universidade de Brasília, a UnB, recebeu o John C Marsden Medal, um prêmio anual que é entregue à melhor tese de doutorado em biologia para programas de pós-graduação do Reino Unido. Ela recebeu a honraria pela Linnean Society de Londres. A premiação foi entregue em 24 de maio na sede da instituição.
A premiada tese de Vasconcelos estudou a família Myrtaceae, que inclui plantas como a pitanga e o eucalipto (sim, eles são da mesma família). “Entre as descobertas mais legais está que essas plantas, superdiversas na América do Sul, se originaram no antigo continente da Zelândia (atual Nova Zelândia) e chegaram a mais ou menos 40 milhões de anos aqui, por meio da Antártida, quando essa ainda não era coberta por gelo. A gente sabe disso por causa do parentesco entre as plantas daquela região com as daqui e também por causa de fósseis na Antártida e na Patagônia”, ela disse ao jornal Correio Braziliense.
A linha de pesquisa que Vasconcelos estuda é a Biologia Evolutiva. Ela é a primeira latino-americana a ser premiada pela Linnean Society de Londres, nessa categoria, dede que o prêmio foi criado em 1988. A Linnean Society é uma entidade dedicada ao estudo e à disseminação da informação concernentes às áreas de história natural, evolução e taxonomia. A sociedade também concede uma série de medalhas de prestígio e prêmios por conquistas. Possui várias coleções importantes de espécimes biológicos, manuscritos e literatura e é responsável pela publicação de revistas acadêmicas e livros sobre biologia vegetal e animal. A rainha Elizabeth II é a patrona da Linnean Society.
A pesquisa de Vasconcelos conseguiu mapear a relação do formato das flores com as abelhas responsáveis pela polinização. “As flores dessas plantas precisam ter um formato específico para que a polinização aconteça e esse formato mudou muito pouco ao longo dos últimos 40 milhões de anos, o que não era um resultado esperado. Geralmente, as flores mudam muito de formato ao longo da evolução por causa da seleção por polinizadores”, explicou.
Vasconcelos foi ao Reino Unido para concluir seu doutorado. Ela conseguiuuma bolsa de estudos da Capes e do antigo programa Ciências sem Fronteiras. No país, ela se matriculou na University College London sob a direção da Dra. Astrid Wingler e trabalhou em tempo integral na Kew Science – Royal Botanic Gardens, supervisionada pelo Dr. Eve Lucas e pelo Dr. Gerhard Prenner.
O prêmio foi concedido para a tese: “Homogeneidade morfológica, heterogeneidade filogenética e complexidade sistemática em grupos ricos em espécies”, publicada no periódico científico Comparative Biochemistry and Physiology Part B: Biochemistry and Molecular Biology. O tema foi a família Myrtaceae, que inclui eucalipto e goiaba da Australásia (região que inclui a Austrália, a Nova Zelândia e a Nova Guiné) e da América do Sul. Este grande grupo de plantas é composto de muitas espécies de aparência muito semelhante. A tese conclui que o sucesso do grupo é provavelmente um resultado da espécie parecer tão semelhante, ao invés de ter flores extremamente especializadas.
Os juízes comentaram que a tese de Vasconcelos “é excepcional e não apenas pela sua ciência. Ela é ricamente ilustrada com impressionantes micrografias eletrônicas de varredura, retratos florais, bem como figuras eficazes e muitas vezes muito bonitas, que simplesmente transmitem ideias e processos complexos para o leitor não especializado”, escreveu a Kew Science em seu site.
Durante seu doutorado, Vasconcelos participou de muitas atividades na Kew, contribuindo para a discussão científica e compartilhando técnicas e habilidades com colegas pesquisadores. Partes desta tese foram publicadas em periódicos botânicos de alto impacto, contribuindo para a compreensão da dinâmica das florestas tropicais, necessária para sua gestão e conservação.
“É importante mostrar que aqui tem muita gente boa também e que a gente já entenderia muito mais sobre a nossa biodiversidade se houvesse mais incentivos à pesquisa dentro do Brasil. Espero que esse prêmio me dê mais energia para tentar fazer a diferença aqui, porque, às vezes, ir para fora do país parece muito atraente, parece que as coisas serão mais fáceis lá”, pondera a agora Doutora Thaís Vasconcelos.
“Ganhar um prêmio de uma sociedade tão tradicional como a Linnean Society, mesmo não sendo inglesa, foi muito legal. Fiquei empolgada ao ver que o que estou fazendo vale a pena”.
Fontes: Correio Braziliense, G1 e Kew Science