Novo estudo mostra como lobos sobreviveram à era do gelo

Mateus Marchetto
Um novo estudo mostra como os lobos sobreviveram à última era glacial.(Imagem de Marcel Langthim por Pixabay)

Há 20 mil anos, a Terra estava passando pela mais recente de suas eras glaciais. Devido a alterações na atmosfera do planeta, enormes coberturas de gelo se formaram ao longo das Américas, Europa e Ásia. Ao final desse período, a maioria da megafauna do planeta acabou extinta, conquanto os lobos (e alguns outros felizardos) tenham sobrevivido.

No entanto, a maioria dos cavalos pré-históricos não sobreviveu ao fim do Pleistoceno. Acontece que esses animais eram as principais presas dos lobos cinzentos. Então, afinal, como esses caninos do topo da cadeia alimentar sobreviveram à escassez de suas presas naturais?

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Imagem: mila-del-monte/Pixabay

Para responder essa pergunta, a paleontóloga Zoe Landry e sua equipe analisaram os padrões de alimentação de lobos pré-históricos e modernos. Os pesquisadores avaliaram 31 fósseis de lobos com idades entre 26 e 50 mil anos de idade. Ademais, os pesquisadores compararam os resultados pré-históricos com outros 17 lobos modernos.

Nesse sentido, é possível avaliar o tipo de alimentação de um animal de acordo com as marcas nos seus dentes. As análises, assim, mostraram que ambos lobos da era do gelo e modernos apresentam certos arranhões em seus dentes, o que indica o consumo regular de carne.

Isso mostra que esses animais não precisaram necessariamente recorrer a restos de carcaças para se alimentarem, mas sim mudaram seus padrões de caça.

Lobos ao longo dos últimos 100 mil anos

Os pesquisadores também analisaram no estudo alguns isótopos presentes nos ossos dos lobos. Esses átomos (que podem ser de nitrogênio, oxigênio, hidrogênio) são como assinaturas presentes em determinadas espécies. Assim foi possível ter uma ideia sobre a base da alimentação dos lobos durante o Pleistoceno.

Os resultados mostraram que durante a era do gelo esses caninos baseavam mais de 50% de sua dieta em carne de equinos. O resto tinha base entre carneiros, renas e até mesmo mamutes.

Os lobos modernos, por outro lado, se alimentam principalmente de alces e renas e essa diferença mostra uma mudança brusca e rápida (evolutivamente) nos hábitos alimentares desses animais.

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Imagem: R_Winkelmann/Pixabay

Essa mudança, por conseguinte, pode ter sido o fator que permitiu a sobrevivência das populações de lobos cinzentos. Nós humanos, aliás, passamos por mudanças semelhantes, adaptando nossa dieta conforme a disponibilidade de alimento. Para ambas as espécies isso pode ter sido determinante para a sobrevivência.

Vale lembrar que nessa época as populações de lobos e humanos eram rivais no que tange ao alimento. Apesar disso, estudos indicam que muitos desses caninos viraram a casaca e acabaram domesticados pelos seres humanos, beneficiando ambos caninos domesticados e humanos domesticadores.

O artigo está disponível no periódico Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology.

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