Espécie de réptil predador ancestral dos crocodilos é encontrada no Brasil

Daniela Marinho
Imagem: Matheus Fernandes

Muito do que se sabe sobre a pré-história veio da descoberta dos fósseis, sejam eles de plantas, animais ou até mesmo peças/ferramentas utilizadas no contexto. Tendo isso em vista, o Brasil foi palco de um achado espetacular: uma nova espécie de réptil que viveu há 237 milhões de anos.

O descobrimento paleontológico revela uma criatura chamada Parvosuchus aurelioi. Pertencente a um grupo conhecido como pseudosuchianos, esses répteis eram parentes antigos dos crocodilos modernos. Os resultados do estudo foram publicados na revista Scientific Reports.

Os pseudosuchianos desempenhavam um papel dominante nos ecossistemas terrestres antes que os dinossauros se tornassem a força predominante na Terra. Durante esse período pré-histórico, os pseudosuchianos eram os principais predadores, ocupando o topo da cadeia alimentar e influenciando significativamente a dinâmica ecológica de seu tempo.

Antigo predador da América do Sul

A descoberta do crânio de um animal pré-histórico revelou a face de um dos antigos predadores da América do Sul. Este fascinante réptil, nomeado Parvosuchus aurelioi, media aproximadamente um metro de comprimento e se destaca como um dos menores carnívoros de seu ecossistema.

Apesar de seu tamanho modesto, o Parvosuchus aurelioi possuía dentes afiados e em forma de lâmina, indicando suas habilidades como caçador. Diferente de seus parentes maiores, que atacavam grandes herbívoros como os dicinodontes, o Parvosuchus provavelmente se alimentava de presas menores e se dedicava à caça e à procura de alimento.

Rodrigo Müller, paleontólogo que batizou a nova espécie, explica que “embora os primeiros pseudosuchianos tenham recebido muito menos atenção do que os dinossauros na cultura pop, estes répteis desenvolveram um vasto espectro de formas antes do surgimento dos dinossauros […] Como o Parvosuchus vivia em ambientes dominados por predadores muito maiores, como o Prestosuchus chiniquensis , de sete metros de comprimento , podemos imaginar que ele tinha que ser um animal furtivo para caçar presas e, ao mesmo tempo, evitar predadores maiores que ele […] É um fóssil incrível que mostra que há muitos segredos da paleontologia brasileira ainda a serem desvendados.”

Pseudosuchianos, grupo mais próximo dos crocodilos

Durante a Era Mesozoica, que abrangeu um período de 252 a 66 milhões de anos atrás, os arcossauros dominaram os ecossistemas terrestres e aquáticos. Este grupo diversificado inclui não apenas os ancestrais das aves e crocodilos modernos, mas também criaturas impressionantes como os dinossauros, pterossauros e répteis marinhos.

Dentre os arcossauros, os pseudosuchianos se destacam como um ramo significativo. Após a devastação do evento de extinção que marcou o fim do Permiano, esses répteis emergiram como vencedores evolutivos, ocupando posições de predadores de topo nos ecossistemas terrestres ao longo do Triássico.

Ao contrário dos crocodilos modernos, que se locomovem com suas patas laterais, os pseudosuchianos provavelmente adotavam uma postura ereta, com as patas mais diretamente sob seus corpos. Esta adaptação permitia um movimento mais ágil e eficiente em terra, facilitando suas habilidades de caça e perseguição de presas.

Quase o peso de um gato

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Imagem: Rodrigo Temp Müller

Após uma meticulosa análise do esqueleto, Rodrigo sugere que Parvosuchus era um predador pequeno e ágil, com peso comparável ao de um gato comum. Este réptil teria habitado ambientes terrestres e provavelmente apresentava duas fileiras de escamas endurecidas ao longo de suas costas, oferecendo proteção adicional.

Devido às suas características morfológicas compartilhadas com outros fósseis, Parvosuchus é identificado como um gracilisuchídeo, um tipo específico de pseudosuchídeo. Esta descoberta marca a primeira confirmação de um gracilisuchídeo no Brasil, ampliando o conhecimento sobre a diversidade desses répteis na região, que também inclui espécies conhecidas na Argentina.

Além de sua importância intrínseca, Parvosuchus proporciona pistas valiosas sobre seus parentes evolutivos. Esta conclusão é sustentada por evidências anteriores sugerindo que um fóssil anteriormente identificado como Maehary pode, na verdade, pertencer ao grupo dos gracilisuchídeos, não aos pterossauros.

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