Nos campos da Índia, uma verdadeira revolução está sendo impulsionada pela energia solar. Até 2026, mais de 3 milhões de agricultores usarão bombas movidas com esse tipo de energia para irrigar suas terras. Com acesso à água gratuita em itens quase ilimitados, suas vidas têm o potencial de mudar radicalmente. Mas há um problema: a água vai acabar.
O Rajastão, um estado deserto, liderou essa mudança com o maior número de bombas solares do país. Agora, eles irrigam mais de um milhão de hectares, aumentando significativamente o uso de água na agricultura.
No entanto, essa prática está tendo um impacto preocupante nos lençóis freáticos. A chuva é escassa para recarregar a água retirada do subsolo, levando a níveis críticos em alguns lugares, como as rochas subterrâneas secando até 120 metros abaixo do solo.
Essas bombas têm um limite de desgaste e muitas delas estão sendo abandonadas. Para manter o ritmo, alguns agricultores mais ricos estão investindo em bombas solares mais poderosas, deixando outros para trás ou obrigando-os a comprar água de vizinhos com mais recursos.
Bombas movidas a energia solar estão se espalhando para além da Índia
Nas áreas rurais de muitas regiões com escassez de água na Índia, África e em outros lugares, as bombas solares estão se tornando rapidamente uma realidade. Esses dispositivos têm capacidade de extração de água subterrânea o dia inteiro, sem custo adicional e sem necessidade de aprovação governamental.
Inicialmente, isso pode soar como uma ótima notícia para os agricultores, oferecendo o potencial de revolucionar a agricultura e melhorar a segurança alimentar. As bombas solares têm a capacidade de fornecer água constante, expandindo as áreas cultiváveis até mesmo em regiões áridas, diminuindo a dependência das chuvas imprevisíveis e, às vezes, atualizando as bombas antigas movidas a diesel ou eletricidade da rede, que são caras de operar.
Ameaça ambiental
A transformação evidente impulsionada pela energia solar na hidrologia está esgotando ainda mais as já esgotadas reservas de água subterrânea, também conhecidas como aquíferos.
O sucesso das bombas solares está colocando em risco a sustentabilidade de muitos desses aquíferos que já enfrentam o perigo de secagem. Soumya Balasubramanya, economista do Banco Mundial especializada em políticas hídricas, alertou em janeiro para essa ameaça iminente.
O que começou como uma inovação promissora para reduzir o uso de combustíveis fósseis e apoiar os agricultores está se evoluindo rapidamente em uma ameaça ambiental em potencial. E novamente, a culpa é nossa.
Números preocupantes
De acordo com um estudo recente do Banco Mundial, cerca de 43% da água utilizada na irrigação em todo o mundo vem de furos escavados em rochas porosas que retêm água. A irrigação é responsável por aproximadamente 70% do total de água subterrânea retirada globalmente.
O monitoramento das reservas subterrâneas individuais é frequentemente irregular e muitas vezes ignorado. Contudo, um estudo recente baseado em dados históricos provenientes da monitorização de poços em 1.700 aquíferos em 40 países revelou uma tendência generalizada de declínio rápido e acelerado nas reservas.
Somente na Índia, os lençóis freáticos diminuem cerca de um metro ou mais todos os anos, como afirma Scott Jasechko, hidrólogo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
Os governantes, por sua vez, ao invés de frear ou barrar o uso dessa bombas aumentam a aposta ao promover a energia solar como meio de fornecer água subterrânea ainda mais barata.
O que ainda pode ser feito
A revolução solar nas fazendas está acontecendo com bons interesses, utilizando uma tecnologia considerada benéfica para o meio ambiente. As bombas solares visam aumentar a produção de alimentos, combater a pobreza, diminuir as emissões de combustíveis fósseis e aliviar a demanda crescente das redes elétricas sobrecarregadas. Mas existe uma desvantagem iminente nesse processo.
Não se trata de condenar a energia solar em si; a tecnologia pode ser parte da solução. Por exemplo, se as bombas solares fossem equipadas com sensores que permitissem o monitoramento de sua produção, os reguladores poderiam impor limites diretos ao seu uso.
Entretanto, se os governos vão adotar essa prática na realidade, dadas as prioridades conflitantes entre a produção imediata de alimentos e a gestão sustentável da água a longo prazo, é uma questão em aberto.