O que aconteceria se você criasse um híbrido entre humanos e macacos? A ciência está um passo mais próximo de descobrir a resposta. Uma equipe de pesquisadores criou com sucesso embriões vivos com células humanas e de macacos.
Em um experimento controverso, os cientistas injetaram dezenas de células-tronco humanas em embriões de macaco em desenvolvimento, resultando em uma combinação quimérica que sobreviveu por até 20 dias em placas de laboratório.
Criando os embriões híbridos
Para criar os embriões híbridos, o pesquisador Izpisua Belmonte – junto com uma equipe liderada pelo biólogo de reprodução de primatas Weizhi Ji da Universidade de Ciência e Tecnologia de Kunming na China – conduziu novos experimentos com embriões de macacos da espécie macaco-caranguejo, também conhecidos como macaco-de-cauda-longa (Macaca fascicularis ), injetando-os com células-tronco humanas, para avaliar como essas células animais distantes, mais relacionadas, podem coexistir como uma só.
Após seis dias, as células fertilizadas começaram a se dividir em células adicionais e, em seguida, montadas em esferas ocas, conhecidas como blastocistos; em uma gravidez normal, um blastocisto se implantaria no útero e, mais tarde, daria origem a um embrião desenvolvido.
Usando marcação fluorescente, os pesquisadores puderam ver que as células humanas se integraram com sucesso em 132 dos embriões de macacos e, após 10 dias, 103 dos embriões quiméricos ainda estavam vivos e em desenvolvimento. Porém, a taxa de sobrevivência começou a diminuir com o passar dos dias. No dia 19, apenas três quimeras ainda estavam vivas, momento em que todos os embriões híbridos foram encerrados de acordo com os parâmetros experimentais.
Por que fazer este tipo de experimento?
Embora a pesquisa em híbridos humano-animal tenha uma história longa e questionável, nos últimos anos os pesquisadores têm buscado organismos quiméricos para sondar questões de biologia que podem oferecer ganhos significativos em campos como a medicina regenerativa.
Há bons motivos para pesquisadores criarem este tipo de experimentos, por exemplo, se fôssemos de alguma forma capazes de dominar o cultivo de órgãos humanos em tecido de porcos, isso poderia ajudar muito a resolver a enorme escassez de órgãos que custa vidas humanas todos os dias.
Questões éticas
Anteriormente, pesquisadores já tentaram incorporar células-tronco humanas em embriões de porcos e ovelhas, com o objetivo final de cultivar órgãos humanos para uso em cirurgias de transplante, relatou a Science Magazine. Mas muito poucas células humanas sobreviveram aos experimentos. A baixa taxa de sobrevivência pode ser devido ao fato de que porcos e ovelhas não são intimamente relacionados aos humanos, evolutivamente falando. Por isso agora os pesquisadores focaram em primatas não humanos.
Embora essa linha de pesquisa possa levar a avanços empolgantes na ciência, há diversas questões éticas a serem abordadas.
“Uma das principais preocupações com as quimeras humano-animal é se a ‘humanização’ das quimeras ocorrerá, por exemplo, se tais quimeras adquirem cognição semelhante à humana”, disse De Los Angeles ao Live Science. No entanto, essas preocupações não se aplicam necessariamente ao novo experimento, uma vez que os embriões só puderam se desenvolver por um tempo limitado e não foram implantados em um útero, disse ele. Mas para estudos futuros, “será importante discutir quanto tempo os experimentos devem durar”, disse ele.
O estudo foi publicado na revista Cell.