E se os tubarões desaparecessem: como seria a vida nos oceanos?

Renata Mendes
O tubarão é um dos principais caçadores das águas. (Foto: Pixabay)

Os tubarões são grandes predadores dos mares e representam uma magnífica história de sucesso em sua evolução. Eles nadaram pelos oceanos por mais de 400 milhões de anos e se diversificaram por rios e lagos também. Hoje, existem cerca de 500 espécies conhecidas e provavelmente há muitas outras que ainda não foram descobertas. Mas como seria a vida nos oceanos se os tubarões desaparecessem?

Esses animais podem ser enormes, como o tubarão-baleia (Rhincondon typus), ou pequenos igual a mão humana, como o tubarão de bolso (Mollisquama parini). Entretanto, o tubarão branco (Carcharodon carcharias) é o mais conhecido e desperta a atenção do público.

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Ele tem a fama de ser agressivo com as pessoas por conta da imagem construída através de centenas enredos do cinema. O retrato apresentado nos filmes é tão contundente que pode induzir alguns a pensar que o mundo seria se os tubarões desaparecessem.

Os tubarões vivem em diversos ecossistemas espalhados pelo planeta, incluindo habitats rasos de manguezais, recifes de coral tropical, águas geladas do Ártico e na imensidão do oceano aberto. Independentemente do local onde habitam, todos os tipos de tubarão são caçadores natos, portanto, têm extrema importância para a saúde de seus habitats, afirmou Jenny Bortoluzzi, candidata a doutorado no Departamento de Zoologia do Trinity College Dublin, na Irlanda para o portal Live Science.

Eles eliminam indivíduos fracos e doentes, o que garante que peixes permanecem saudáveis em um tamanho propício para o habitat. Bortoluzzi ainda acrescenta que os tubarões ajudam a preservar o ecossistema apenas com sua presença. Os tubarões-tigre, por exemplo, afugentam tartarugas e as impedem de pastar demais na vegetação, explicou.

Além disso, a pesquisadora Victoria Vásquez, candidata a doutorado do Moss Landing Marine Laboratories na Califórnia, apontou que os tubarões também contribuem no controle na produção de oxigênio nos mares, alimentando-se de peixes que devoram plâncton.

A espécie também é importante para manter a biodiversidade e saúde de ambientes recifes de coral, como aponta Toby Daly-Engel, professor assistente do departamento de ciências marinhas e diretor do Shark Conservation Lab, da Florida Tech. “Caso os tubarões parem de existir, os peixinhos explodiriam na população, porque nada os come. Logo, a comida deles – plâncton, microrganismos, camarões pequenos – iria embora, e então todos os peixes pequenos morreriam de fome”, disse Daly-Engel à Live Science.

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Outro papel de destaque dos tubarões para as redes alimentares oceânica, é fato de que eles servem como alimentos carnívoros marinhos. Acredita-se que grandes tubarões brancos chegaram mortos nas praias da África do Sul por terem sido vítimas de ataques de orcas.

Porém, recentemente vídeos mostraram um tubarão (Squalus clarkae) se alimentando no fundo do Atlântico. O episódio acabou com uma garoupa devorando um dos tubarões inteiros. Até mesmo polvos comem tubarões, como é notável em um vídeo publicado pela National Geographic, no YouTube em 2009.

Melissa Cristina Márquez, bióloga e fundadora da The Fins United Initiative, afirmou para a Forbes no início do ano que os tubarões migratórios, como o tubarão-cinzento (Carcharhinus amblyrhynchos), fornecem alimento para os organismos em vários locais do oceano. Eles deixam para trás seu cocô rico em nitrogênio.

E se de fato os tubarões desaparecessem: como evitar?

População de tubarões. Como seria a vida no mar se o tubarão desaparecesse?
Os tubarões vivem espalhados por diferentes habitats e são cruciais para o bom funcionamento da vida marítima. Se os tubarões desaparecessem, muitos ecossistemas seriam afetados, e não somente em ambiente aquático. (Foto: Shutterstock)

Segundo o Portal Ocean do Intistuto Smithsonian, cerca 25% de todas as espécies de tubarões, patins e raias estão ameaçadas de extinção. “Como a quantidade de tubarões filhotes é pequena e eles demoram a amadurecer, seus números não são reabastecidos com rapidez suficiente para acompanhar as perdas da pesca comercial”, contou Daly-Engel.

Bortoluzzi aponta que nos últimos dez anos, algumas populações de tubarões caíram em até 90%, refletindo uma tendência insustentável de superexploração em habitats oceânicos. “Muitas espécies também enfrentam a perda de habitats, com áreas de refúgio, como manguezais, sendo destruídas para acomodar nossa crescente população humana, e espaços, como fundos marinhos e recifes, são danificados por métodos destrutivos de pesca, como a pesca de arrasto”, observa.

É notório que os tubarões são fundamentais para o oceano. Entretanto, o que podemos esperar para os próximos anos deste animal? A legislação federal e os tratados internacionais, como a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens, podem ajudar a preservar populações vulneráveis.

Porém, muitas espécies são pouco compreendidas. Isto pode prejudicar os esforços de conservação, disse Michael Scholl, CEO da organização sem fins lucrativos Save Our Seas Foundation. “As instituições governamentais devem ter informações validadas para apoiar um declínio significativo dos animais, por exemplo”, disse Scholl ao Live Science.

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Por conta disso, a Save Our Seas trabalha ao lado de pesquisadores marinhos para coletar dados de tubarões que podem informar as medidas de proteção necessárias; a organização sem fins lucrativos também trabalha para aumentar a conscientização pública sobre a diversidade de tubarões e sua importância para seus ecossistemas marinhos, disse Scholl.

A extinção da espécie é capaz de trazer impactos graves para a vida marinha. Portanto, se o tubarão desaparecesse, a situação afetaria não apenas o mar, mas também o homem.  “A pesca pode entrar em colapso, com os pescadores artesanais sendo os mais afetados, e os destinos turísticos populares que contam com os bichos para atrair turistas também sofrerão muito”, disse Bortoluzzi. “É importante entender que, tanto quanto nossos oceanos precisam de tubarões, nós também”, concluiu.

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