O eROSITA é um observatório espacial russo-alemão construído pelo Instituto Max Planck de Física Extraterrestre na Alemanha, e sua primeira missão, recém finalizada, foi varrer o céu no espectro de raios-x por alguns meses, gerando a imagem que vocês veem na capa.
Para realizar essa varredura celeste, contudo, ele foi posicionado em um dos pontos Lagrangianos entre o Sol e a Terra. Esses pontos são locais onde a resultante da gravidade dos dois corpos, se anula, tornando-se uma posição estável.
Para ilustrar esse ponto, imagine dois ímãs: um mais fraco e outro mais forte. Se você colocar um prego muito próximo a um deles, ele será atraído, mas há uma distância – mais próxima do ímã menor – em que os dois ímãs puxam o prego com a mesma força, anulando a força resultante.
Com esses meses de observação, os pesquisadores fizeram um mapa contendo todos os objetos que emitem raio-x, extremamente detalhado, superior aos que tínhamos anteriormente.
“Essa imagem do céu muda completamente a maneira como olhamos para o universo energético. Vemos uma riqueza de detalhes – a beleza das imagens é realmente impressionante”, disse astrofísico Peter Predehl , principal pesquisador da eROSITA nos laboratórios alemães, em um comunicado de imprensa.
Nós, seres humanos, somos muitos limitados na observação da natureza: só conhecemos o mundo através do que enxergamos, ferejamos ou ouvimos, mas os dados nos permitem ir muito além.
O universo com raios-x
Não são todas as faixas de luz que enxergamos. O universo também pode ser visto por rádio, por microondas, luz infravermelha, luz ultravioleta, por raios-x, raios gama: uma infinidade de formas.
Os raios-x são liberados por diversos objetos pelo universo, com destaque para o mais energéticos, como buracos negros, estrelas de nêutrons, quasares e supernovas.
Do mapa que os pesquisadores fizeram, 77% dos objetos são buracos negros ou núcleos galácticos ativos, que se formam com a liberação de energia pela “alimentação” do buraco negro.
Para se ter ideia da diferença na energia liberada por esse núcleos galácticos ativos, os aglomerados de galáxias correspondem apenas por 2% dos objetos da imagem.
Se pudéssemos ver os raios-x também ficaríamos um pouco limitados aqui embaixo, pois a atmosfera da Terra os bloqueia – ainda bem, pois são prejudiciais para seres vivos.
Por isso, precisamos vê-los com um equipamento no espaço. O último satélite a fazer isso foi o ROSAT, na década de 1990. O eROSITA é mais novo, e cerca de 4 vezes mais potente.
Em 182 dias de coleta, o observatório reuniu 165 gigabytes de dados brutos, que precisaram ser processados. Portanto, um ‘pré-processamento’ era feito diariamente, a cada download dos dados.
O astrofísico Kirpal Nandra dá um spoiler do que está por vir com essa nova geração de observatórios de raios-x:
“Nos próximos anos, seremos capazes de sondar ainda mais longe, onde as primeiras estruturas cósmicas gigantes e buracos negros supermassivos estavam se formando.”