Dinossauros de pescoço longo tinham o pescoço maior do que pensávamos

Dominic Albuquerque
Argentinosaurus caminhando num deserto rochoso.

Exibidos frequentemente em filmes e presentes em museus ao redor do mundo, dinossauros de pescoço longo chamam atenção por seu tamanho imenso. Sua característica mais simbólica é o pescoço longo, cujo novo estudo aponta ser ainda maior do que pensávamos.

Mike Taylor, pesquisador associado do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, do Reino Unido, contou para “não levar muito a sério os esqueletos montados que você vê no museu”. Segundo ele, se os pesquisadores tivessem acesso a um pescoço completo de saurópode e contabilizassem com precisão a cartilagem faltante (que raramente fossiliza), os pescoços facilmente teriam um metro a mais do que se imagina.

Até hoje, pouquíssimos pescoços completos de saurópodes foram documentados pelos cientistas, e mesmo os espécimes com um pescoço relativamente completo frequentemente possuem ossos disformes, distorcidos depois de dezenas de milhões de anos em exposição ambiente.

Além disso, paleontólogos têm dificuldade em concordar onde termina o pescoço e onde começa a espinha dorsal.

O fascínio pelos dinossauros de pescoço longo

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Mike Taylor exibe uma única vértebra do Supersaurus (à esquerda) e um modelo de como seria antes de danos (à direita). Imagem: Mathew J. Wedel, CC BY 4.0

O estudo foi publicado em janeiro na revista PeerJ, sendo também detalhado no blog de Taylor, SV-POW. O cientista é fascinado pelos pescoços dos saurópodes há mais de vinte anos. “Eles são fascinantes em tantos aspectos – mecânica, biológica, física e ecologicamente”, disse ele. “Devem ser as partes corporais mais extremas a serem desenvolvidas em qualquer coisa que já tenha vivido”.

Suas observações indicaram que dezenas de espécimes, até mesmo as mais famosas, como o Diplodocus e o Apatosaurus dispostos no Carnegie Museum of Natural History, em Pitsburgo, possuem pescoços imperfeitos, assim como o grande braquiossauro do Museu de História Natural de Berlim.

Às vezes há vértebras faltando, ou elas estão misturadas, dificultando a tarefa de determinar o quão longo era o pescoço. “Em mamíferos é realmente fácil de dizer isso porque há sete vértebras cervicais no pescoço e elas não têm costelas acopladas”, Taylor disse. Mas em saurópodes, algumas vértebras do pescoço se prendem ás costelas, o que torna difícil enxergar onde termina o pescoço e onde começa o tronco, em alguns dinossauros.

A sedimentação dos saurópodes

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Essa vértebra cervical, do saurópode Giraffatitan brancai, está levemente distorcida. Imagem: Michael P. Taylor; CC BY 4.0

Os dinossauros de pescoço longo eram enormes – o maior animal terrestre, Argentinosaurus, pode ter chegado a ter 35 metros de comprimento e pesado 77 toneladas – então é normal que fossilizações completas sejam incomuns.

Para se tornar um fóssil, o animal precisa ser coberto rapidamente por sedimentos antes de predadores ou outros elementos alterarem os restos, o que é improvável de ocorrer com uma grande criatura. Além disso, as vértebras do pescoço dos saurópodes eram frágeis e ocas, o que significa que elas poderiam facilmente ser distorcidas, amassadas ou quebradas durante o processo de fossilização, explicou Taylor.

“Não é acidental que os saurópodes mais preservados são pequenos como o… jovem e com tamanho de vaca, Camarasaurus lentus”, e não um maior, escreveu ele no estudo.

Até hoje, os pescoços mais longos de titanossauros (ou saurópodes gigantes) a serem relatados pertencem ao Patagotitan, Puertasaurs e Dreadnoughtus, que se pensa terem em torno de 10m, ainda que o material seja escasso.

Taylor sugere que, para melhorar o conhecimento público acerca dos dinossauros de pescoço longo, os museus poderiam tornar claro o que é conhecido e o que é suposição, como deixando os ossos conhecidos em cores diferentes nas montagens reconstruídas.

Entender os limites atuais do nosso conhecimento sobre o pescoço dos saurópodes é importante, especialmente quando se trata de construir árvores genealógicas baseadas em fatores anatômicos, disse Femke Holwerda, pesquisadora de pós-doutorado no Royal Tyrrell Museum of Paleeontology em Alberta, Canadá, que não esteve envolvida no estudo.

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